Resultado de uma operação dramatúrgica a seis mãos, Se eu fosse eu — Clarices tomou forma a partir de três textos de Clarice Lispector. Em cartaz no Teatro Garagem (913 Sul), a peça propõe uma leitura intimista para as mulheres da escritora a partir da visão das atrizes Camila Guerra, Rosanna Viegas e Juliana Drummond, do ATA — Agrupação Teatral Amacaca.
O embrião da peça nasceu de um pedido de Hugo Rodas para um sarau no qual comemorou 80 anos: o diretor, morto em abril de 2022, queria ganhar de presente cenas feitas pelos atores do grupo que ajudou a fundar. Camila Guerra decidiu montar O ovo e a galinha, de Lispector; e pediu a Camila Guerra e Juliana Drummond que a dirigissem. Daí pra frente, o projeto só cresceu, tomou corpo e outros dois textos foram incorporados à montagem, assim como as próprias Juliana e Rosana subiram ao palco para interpretar personagens de três contos. "São as três no palco, com personagens que se fundem ao mesmo tempo. São personagens diferentes mas que vão se integrando. Você pode ver como três personagens ou como uma só. São facetas diferentes", avisa Rosana.
Além de O ovo e a galinha, elas também trouxeram para o espetáculo Miss Algarve e Perdoando Deus, dois textos que carregam reflexões às quais Clarice Lispector gostava de se entregar. Se em O ovo e a galinha a personagem traz uma epifania revelada no café da manhã enquanto cozinha um ovo e se depara com a natureza do que é ser mulher, MIss Algarve traz um pouco do erotismo feminino e reflete sobre a descoberta do sexo e do prazer, enquanto Perdoando Deus explora a espiritualidade e o amor próprio.
Para Rosana, a escrita da Clarice Lispector é muito singular. "Ela abre a cabeça da gente, ela não fecha a história, não dá uma receita, você começa a ler e vai abrindo um universo, as frases vão virando um caleidoscópio", explica a atriz. "Ela é enigmática, misteriosa. Tem que ir decifrando." Formado por mais de 20 pessoas, o ATA é um grupo grande e as três atrizes encarnaram o projeto de Se eu fosse eu — Clarices como um forma de experimentar um formato menor. "Somos três no palco e somos três nos dirigindo. É um projeto para a gente se reinventar dentro do grupo. Clarice vai nas entranhas do feminino, é autoconhecimento também. A gente mergulha no texto dela e fica passeando por nossos mundos, tentando entender o que ela queria dizer com aquilo", avisa Rosana.
Serviço
Se eu fosse eu – Clarices
Nesta sexta-feira (20/9) e no sábado (21/9), às 20h, e domingo, às 19h30, no Teatro Garagem (913 Sul). Ingressos: R$ 20 (meia), no Sympla. Não recomendado para menores de 18 anos.