Crítica

Registro extraordinário e corriqueiro: o cinema mineiro de André Novais

Bastante apoiada em atuações refinadas de Grace Passô e Renato Novaes, a comédia O dia que te conheci engrossa o discreto e divertido cinema de André Novais Oliveira

Cena do filme O dia que 
te conheci: retrato do cotidiano -  (crédito: Filmes de Plástico/ Divulgação)
Cena do filme O dia que te conheci: retrato do cotidiano - (crédito: Filmes de Plástico/ Divulgação)

Crítica// O dia que te conheci ★★★★

Um retrato atrelado ao cotidiano e um andamento cênico que abraça compasso ao estilo "dois pra lá, dois pra cá" circundam a mais nova e divertida comédia dramática assinada pelo diretor mineiro André Novais Oliveira. A mise-en-scène adotada por ele, falsamente, é toda despojada, parece brotar do corriqueiro. Fica solta, no sobe e desce dos protagonistas pelos calçadões mineiros, e esbanja intimismo em ambientes de leve confinamento.

Vencedores dos prêmios de melhor ator e de melhor atriz, no mais recente, e 56º, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Renato Novaes e Grace Passô cimentam uma relação genuína na telona. Do que seja comum na trajetória do bibliotecário, sempre atrasado para a escola em que trabalha, e da realista auxiliar de secretaria se extrai a grandeza. O roteiro, também premiado com troféu Candango, amplia a bem agarrada chance dos atores se afirmarem em veia naturalista: tudo dá a impressão de ser real, sem ensaios ou camadas de firme dramaturgia. Embalado por notas de Djonga, pela voz de Alaíde Costa e por composições eruditas, o filme casa a perspectiva descontraída de Luísa com o modo cartesiano e introvertido de Zeca — ele, às vias de uma demissão.

 

 

Com mais foco do que o visto nos longas anteriores, Temporada e Ela volta na quinta, Novais complexifica o lado inanimado do jovem com o franco interesse da gritante pretendente. Ações como pegar uma carona, tomar uma cerveja e recorrer a um ônibus ganham dimensões inesperadas na trama. O roteiro é habilidoso, ao não se emaranhar, e mesclar temas como ansiedade, psicopatia e depressão a risos. Enxuto, o longa passa a impressão de gerar uma intuitiva graça junto ao espectador, sem extrapolar o comezinho: seja na ida à padaria para um café ou na investida de Luísa disposta a muito para "conhecer o quarto" de Zeca.

 

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postado em 27/09/2024 08:12
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