É com um jogo de palavras, quase uma charada, que a artista plástica Terezinha Lousada decidiu nomear a exposição em cartaz a partir de amanhã na Casa Aerada Varjão. Uma série de pinturas e desenhos realizados durante o confinamento imposto pela pandemia de covid-19 foram reunidas sob o título de ...minhas sombras são…, um conjunto 38 obras, sob a curadoria de Renata Azambuja, nas quais a artista explora emoções e sensações vividas durante o isolamento.
Ora mais figurativas, ora mais abstratas, as pinturas surgiram das sombras observadas pela artista no espaço íntimo da casa. Antes de trazê-las para as telas, Terezinha as fotografava. "As pinturas têm uma coisa referencial que vem da projeção mesmo das minhas sombras, poderia ser quase um retrato, uma paisagem, mas, no tratamento, elas vão se mesclando, se diluindo, fazem um diálogo com essa coisa objetiva as fotos transformadas na pintura", avisa a artista.
Nos desenhos, Terezinha olhou para as próprias mãos. São elas as protagonistas dos traçados e as responsáveis por captar um sentimento vivido por todos diante de uma ameaça invisível que se instala repentinamente. "Acho que as mãos têm a ver também com a essa coisa da impotência do isolamento. Sempre recorri muito às mãos como ação no meu trabalho e é a primeira vez que uso esse elemento para representar a incapacidade da ação, as impossibilidades. É como se representasse a figura humana", analisa a artista, que também levou para os trabalhos a inquietação diante das notícias de guerras, como a da Ucrânia e a de Israel na Palestina.
Mas Terezinha avisa que o público não vai se deparar com imagens diretas de guerras ou referências explícitas ao confinamento. "Embora tenha essa motivação e venha de uma coisa da realidade, é muito dentro dessa projeção subjetiva, intersubjetiva das interações humanas e da maneira de sentir essas mudanças tão profundas", explica.