A artista Marcela Cantuária foi buscar na história recente do Brasil os símbolos usados para criar as obras de Boca da noite, exposição em cartaz na Cerrado Galeria sob curadoria de Ana Clara Simões Lopes. Ao estudar as narrativas em torno da guerrilha do Araguaia, símbolo da luta armada contra a ditadura no Brasil, nos anos 1960 e 1970, a artista se deparou com toda uma mitologia em torno dos guerrilheiros. Dizem as lendas que, para fugir do abate dos militares, os homens se transformavam em lobisomens e as mulheres, em mariposas.
Foi dessa simbologia que a artista retirou as imagens pintadas e retratadas nas 18 telas e cerâmicas expostas em Brasília. "São pinturas que dialogam com a tentativa de resgate de memórias sistemicamente rasuradas e apagadas. Muitas mulheres lutaram contra a ditadura militar no Brasil e as memórias dessas pessoas foram esquecidas. O intuito da produção da Marcela é se debruçar sobre essas histórias de resistências", avisa a curadora.
As obras também trazem uma nova vertente de exploração pictórica da artista Nas pinturas, Marcela explora formas de representação de ambientações noturnas. "São obras em que ela se debruça sobre a ideia da noite de forma estética simbólica. Ela se propôs ao desafio de produzir pinturas noturnas para explorar como essa paleta se daria", explica a curadora.
Nas pinturas, a artista investe em retratos de mulheres que participaram da luta armada, como Maria Augusta Thomaz e Marilene Vilas Boas. As obras são inéditas e criadas especialmente para a exposição.
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