Crítica // Meu filho, nosso mundo ★★★
Com a expressão "retardado" para se referir ao personagem do neto (na ficção) Ezra (William A. Fitzgerald), o carismático ator Robert De Niro, por segundos, se arrisca, na pele do perturbado personagem Stan. Tal qual em O lado bom da vida, De Niro abraça um tipo que dá indireto suporte para uma família em apuros. Um dos titulares do revezamento de stand up comedy, no Clube de Comédia Cellar, Max (Bobby Cannavale, num papel frontalmente diferente do visto em Blue Jasmine) vive o filho de Stan, capaz de protagonizar um sequestro parental, a favor do bem-estar do filho Ezra.
Max luta pela exclusão de Ezra "do mundo dele", pretende que o rapaz não seja ignorado e que contornem a tensão social, acada movimento de Ezra para se acomodar numa sociedade rude. Ânsias pessoais de Ezra (com comportamento diferenciado e gostos particulares), a frágil cumplicidade do filho e do pai e a complexidade de relações com a mãe Jenna (Rose Byrne) são elementos deste agitado drama. Enquanto defende a existência de um código secreto indireto de comunicação entre as pessoas, Max se esforça para entender a "meio revolucionária" mente de autista do filho.
Ameaças de agressão, jornada de aceitação, extrema dedicação e muita carência embalam o convívio entre todos. Pressionado por um histórico familiar, Max sabe que não será como num passe que Ezra vai "virar uma criança incrível" (como ele pontua). Desanimado para ver o filho numa escola diferenciada, nem mesmo apoio o pai aceita, como reforça a analista dele, personagem para Whoopi Goldberg, que destaca querer vê-lo "voando", mas ele "teima em destruir o aeroporto". Quem acaba por explicar esta limitação é Stan que rende a De Niro, uma participação decisiva aos moldes do clássico Filhos do silêncio (1986), em que Piper Laurie se desculpava pela falta de tato com a filha Marlee Matlin.
Com algumas piadas cáusticas (no palco de um show, Max diz ter se encontrado, finalmente, com sua "criança interior", e ela "portava uma arma"), Meu filho, nosso mundo ganha quando soma esporádicas presenças de personagens como os de Rainn Wilson (de The office) e Vera Farmiga (Amor sem escalas). Citando séries como Breaking bad e filmes como O grande Lebowski, o diretor Tony Goldwin (curiosamente, ator no filme e ainda o amigo traíra de Ghost) cria um drama sobre a dificuldade de comunicação e de afeto e a eterna função de pai, como destaca Max: "passar a bola para o filho".