Crítica // Mais pesado é o céu ★★★
A impossibilidade do progresso está no centro da temática do mais recente filme do diretor nordestino Petrus Cariry, detentor de prêmios como o de melhor filme no Odenburg Internacional Film Festival (Alemanha) e ainda destacado no Festin — Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (Portugal), no qual venceu na categoria de direção. Sem muito alento, Antônio e Teresa, respectivamente interpretados por Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios (vencedora do prêmio especial do Festival de Gramado, no qual o longa, tido como o melhor, recebeu prêmios ainda pela montagem e direção).
Anos depois de expôr condições bastante femininas, nos longas Mãe e filha e O grão, Petrus se detém nas existências em círculo, e limitadas, dos parceiros de estrada Antônio e Teresa que, no Ceará, comem o pão que o diabo amassou, ao tentar darem vazão ao espírito solidário (na criação de um menino abandonado), mas sem o menor respaldo para as próprias vidas. Ainda que contenha um desfecho bastante contraditório em relação ao temperamento do pacífico Antônio, o filme consegue prender em muito a atenção, não apenas por causa da fotografia resplandecente, mas ainda pela crise da dupla que, no passado, viu a cidade de origem ceder terreno, e ser engolida, pela instalação de uma represa.
Com enorme naturalidade, Silvia Buarque e Buda Lira, despontam em cena como seres caridosos. Danny Barbosa (de Bacurau), na pele de uma operadora de caixa, também faz a diferença. Sem se render a facilidades, tanto Nachtergaele quanto Ana Luiza trazem à cena um amargo gosto de derrota, dada a indiferença de muitos à condição de não-existência. Sem dinheiro, sem ocupação e a passos de perderem a paciência.
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