Crítica

Mulher trans agita pacata vila de pescadores, no cinema

Coprodução com o Brasil, A filha do pescador trata com olhar sensível a questão da sexualidade em áreas periféricas

Crítica // A filha do pescador ★★

Existe um quê rudimentar no filme do colombiano Edgar De Luque Jácome, fator capaz de lhe conferir extrema autenticidade. O filme se vale de uma estrutura louvável de coprodução rara entre países como República Dominicana, Colômbia, Porto Rico e Brasil, e traz como distribuidora a Bretz Filmes, de títulos como Sinfonia de um homem comum e Gabriel e a montanha, ancorados em temas ligados à solidão. Com A filha do pescador não é diferente: "ladrona, prostituta e traficante", como chega a se dizer, a protagonista Priscila (Nathalia Rincón) está sozinha numa ilha da qual pretende partir para a Venezuela.

Muitos são os acertos de contas e as pendências: no pai, Samuel (Roamir Pineda), não vê aceitação, enquanto zela pela memória da mãe e busca isolamento. A chegada de Priscila (que muitos ainda insistem em chamar de Samuelzinho) tem certo respaldo na figura do tio Ruperto (Roosevelt Rafael González), enquanto alguns se queixam de ela poder "enviadar a pesca" dos profissionais como o pai.

"O mundo ainda é o mundo", com ou sem Priscila, como diz um personagem, e a narrativa parte de conflito para desenhar algo de aproximação entre familiares, por anos, dispersos. Bem encadeada, a história simples conta com toques dos brasileiros Karen Akerman e Ricardo Pretti, na montagem. Amargurado, o pai de Priscila se diz autônomo e irredutível (tendo um arpão empunhado como símbolo deste rigor). Sem uma conclusão absolutamente fechada, o final do longa se mostra bem poético e crível.

 

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