Cláudio Ferreira claudioferreira_64@hotmail.com
Desde muito cedo, quando decidi ser jornalista, aprendi a reconhecer as pessoas famosas. Afinal, sabia que dependeria de muitas delas para o meu ofício — primeiro os artistas, depois os políticos. Ter na memória imediata rostos conhecidos, acompanhados, de preferência, pelos nomes, pode fazer a diferença na tentativa de conseguir uma entrevista não planejada e evitar a situação constrangedora de “passar batido” por alguém que deveria ser o alvo da minha atenção.
A era das redes sociais bagunçou com todos os meus conceitos, ao instalar uma nova categoria: a das celebridades. Agora os famosos são famosos não porque fizeram alguma coisa de relevante – seja na política, na economia ou nas artes – mas simplesmente porque a internet os elegeu famosos. Reis e rainhas, artistas de cinema, galãs e heroínas de novelas, cantores populares, todos cedem espaço a quem é “seguido” por muita gente, dá conselhos, indica produtos e tem uma vida pública recheada de festas e muito dinheiro.
Tento me atualizar lendo os sites que misturam notícias importantes com o acompanhamento da vida dessas celebridades, mas está difícil. Imagine uma manchete fictícia: “Fulaninha se separa de Fulaninho e compra um carro de R$ 1 milhão”. Não faço a mínima ideia de quem seja o ex-casal. Também não me interessa saber quanto custou o carro dela. Aliás, não tenho muita curiosidade nem pela vida particular das pessoas que conheço, quanto mais das que não conheço.
Mas sei que estou na contramão. As celebridades sobrevivem também da superexposição. Mostram nas redes sociais o que compraram, quanto custou, como ganharam muito dinheiro em tão pouco tempo, como são íntimos de alguns daqueles famosos de antigamente...Chegam ao exagero (no meu ponto de vista) de detalhar intimidades sexuais para seus seguidores – sabendo, obviamente, que esse material privado vai ter destaque em algum lugar.
E só tem destaque porque tem alguém curioso para conhecer essas intimidades. Para quem se admirava com as publicações dedicadas ao mundo das celebridades – da revista Manchete da minha infância até a Caras – a internet superou qualquer expectativa. Tenho pena dos colegas jornalistas que são obrigados a fazer coberturas de futilidades, precisam ter imaginação para as perguntas e depois, partem para escrever um texto minimamente criativo com um material muitas vezes pobre.
As celebridades do século 21 são máquinas de fazer dinheiro. Fico impressionado com a facilidade e a rapidez com que se ganha muito – a pessoa é convidada para marcar presença em uma festa e, naquela noite, já embolsa R$ 10 mil. Artistas em início de carreira, muitas vezes conhecidos só em um nicho de mercado, acumulam um patrimônio de R$ 1 milhão em um piscar de olhos.
Por causa disso, ser uma celebridade é o sonho de milhares de pessoas. Infelizmente, o esforço não é para desenvolver um talento nato ou batalhar por um lugar ao sol na própria profissão. A busca por ser uma celebridade tem várias receitas, que incluem procedimentos estéticos a perder de vista e a quebra de barreiras, às vezes com custo pessoal alto, na conquista dos holofotes.
Acho que eu gostava mais das pessoas que atraíam os holofotes aos poucos, em decorrência do brilho pessoal e do talento nas suas áreas de atuação – os canhões de luz eram a consequência e não o objetivo principal. O mundo das celebridades era mais restrito e a fama durava mais. Agora, ex-BBBs, youtubers e tiktokers sobem mais rápido, mas o prazo de validade muitas vezes é mais curto. E haja terapia para lidar com a falta de fama depois da fama...
claudioferreira_64@hotmail.com
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