Artes cênicas

A resistência da periferia é tema de peça em cartaz no Teatro Ribondi

Espetáculo Pai nosso coloca em cena a história de uma mulher negra que entra em um teatro sem identificar o espaço

Geise Prazeres conduz monólogo resistência e desigualdades no Teatro Ribondi -  (crédito: Alisson Gonçalves)
Geise Prazeres conduz monólogo resistência e desigualdades no Teatro Ribondi - (crédito: Alisson Gonçalves)

O espetáculo Pai Nosso é atração, neste sábado (27/7) e no domingo (28/7), no Teatro Ribondi. A obra, estreada em março, é uma produção independente  realizada pelo Coletivo Arar — Afeto, Resistência e Arte, com direção e dramaturgia de Vinicius Ávlis e trabalho cenotécnico de Josias Silva. Já passou pelo Festival de Ubá, por Salvador e por participações em festivais do DF. 

Em monólogo, Geise Prazeres, uma mulher preta e periférica, dá vida a personagem Luzia, uma mulher tão comum quanto qualquer outra que entra no teatro, sem querer e sem saber que é um teatro, para vender produtos de limpeza. Ao longo da peça, a personagem conta algumas histórias da sua vida, incluindo a abordagem policial que sofreu, as desigualdades sociais e o racismo. "Mas o espetáculo não se resume à desigualdade, ao racismo ou a polícia. Esses temas estão lá sem precisar ser dito, sem ser o centro da dramaturgia. O espetáculo é sobre ela", explica a atriz. 

O texto foi inspirado em histórias de mulheres da família do dramaturgo Vinicius, após uma ação policial na Rodoviária do Plano Piloto contra os ambulantes, em maio de 2023. "Surgiu de uma inquietação e repúdio a esse ato da polícia. Mas também, em paralelo, eu pesquiso sobre as mulheres da minha família, que são fazedoras de sabão caseiro. O texto surge a partir dessas duas linhas de impulso e pesquisa", explica. "Falar sobre  as mulheres da minha família é reforçar o  acolhimento e o afeto. São mulheres inspiradoras, que exalam força e excelência. Ao mesmo tempo, enquanto dramaturgia e processo criativo, ressignifico para que a escrita dramatúrgica possa dialogar e aproximar o público de mulheres familiares: seja a mãe, a tia, a avó…", ressalta. 

Luzia é uma mulher sorridente, resistente, que sofre com a desigualdade mas prefere não deixar que isso seja o centro da  narrativa de sua vida. Ela continua fazendo sabão e vivendo. "Uma das minhas dificuldades foi a identificação com esse lado resiliente que ela traz consigo. Enquanto mulher preta, eu compartilho de algumas dores, o que tornou a peça ainda mais real. Mas sabemos que a realidade é outra. Nem todas as pessoas pretas conseguem sentir-se resilientes e otimistas o tempo todo", conta Geise sobre o papel. "Fazer Luzia é de uma responsabilidade imensa, pois, apesar de não representar todas as mulheres pretas, muitas delas se identificam com as histórias da personagem, inclusive eu."

A personagem é uma representação de um Brasil humano e genuíno ao retratar de forma real histórias de pessoas pretas e periféricas. Tem como um dos objetivos fazer com que o público saia da sessão se sentindo parte do espetáculo pela proximidade com a personalidade da vendedora ambulante. "O público se identifica muito com Luzia de forma direta ou indireta. Sempre tem alguém na plateia com uma história semelhante, seja sua, de algum familiar ou conhecido. As pessoas se sentem vivas, valorizadas, importantes quando suas histórias são contadas, é importante que isso se torne comum", fala Geise.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 


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postado em 26/07/2024 06:14
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