Crítica

Todos os cães merecem o céu: há lealdade suprema, em 'Hachiko'

Depois de versão estrelada por Richard Gere, a trama verídica da dedicação de um cão japonês chega às telonas em versão chinesa

Hachiko para sempre: versão chinesa -  (crédito:  Paris Filmes)
Hachiko para sempre: versão chinesa - (crédito: Paris Filmes)

Crítica // Hachiko: para sempre ★★★

Cada vez mais universal, o enredo de Hachiko: para sempre quebra novas fronteiras, e coloca o famoso cão japonês (que existiu nos anos 1920 no Japão) ao lado de colegas Benji, Lassie e Marley. Quase 15 anos depois de Sempre ao seu lado, estrelado pelo hollywoodiano talento de Richard Gere, num filme do sensível cinema do sueco Lasse Hallström. Há simplicidade da trama que traz como fator de novidade a ambientação em produção chinesa assinada por Ang Xu.

Em Yungyang, colado a uma banca de jornais, nos arredores da estação de um teleférico, se firma toda a inquebrantável amizade entre o "lento e indeciso" professor substituto Chen (Xiaogang Feng) e seu vigilante e prestativo cão Hachiko, da raça Akita Inu. O regresso do tutor, depois da jornada de trabalho, é um dos pontos mais altos neste drama diferenciado que, com naturalidade, abraça os diálogos mantidos entre o sexagenário e o esperto cão.

Bastidores das cenas de treinamento dos cães (foram vários, na produção) para o filme, mostrados ao final são antecedidas pelo desfecho na trama, apelativo demais e permeado por alegoria rasa. Por sorte, o desenvolvimento do namoro de Hachiko com a cachorra branca é comedido, sem infantilização. O domínio da imagem, num filme inicialmente imersivo, pontua com agilidade a direção de Ang Xu.

A conquista dos familiares de Chen, por parte do cachorro, é gradual. No trabalho, o tutor alega "problemas familiares", ao acolher o cachorro (ainda bebê e em situação de risco), a quem aconselha: "Seja um bom menino". Com o filho aplicado em excesso na computação e a filha no trampolim para casamento, resta a Chen e o cão a serenidade do cotidiano pré-ninho vazio, com a esposa de Chen, Li Jiazhen (Joan Chen, de O último imperador), mais detida nas partidas de mahjong (o tradicional jogo chinês) e em defender um bordão ("tão irritante"). No enredo que versa sobre persistência, curiosamente, o filme trata dos efeitos das mudanças climáticas em curso. Na trama de afeição, dedicação e memória, impossível não relacionar os traumas caninos dos bichanos do Rio Grande do Sul com o comportamento humano do famoso Hachiko, que abraça momentos de "choque" no comportamento.

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postado em 19/07/2024 08:02
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