Crítica // Divertimento ★★★
No lugar da batuta, uma baguete; numa sala de aula para músicos, nenhum púlpito destinado a professor e ainda uma série de boicotes para a maestrina que tenta comandar ensaios. Numa realidade em que menos de 5% das vagas são ocupadas por mulheres à frente de orquestras, a franco-argelina Zahia Ziouani (jovem, na telona, e representada por Oulaya Amamra) foi atrás do que pretendia, revolucionando a esfera machista de um conservatório, quando tinha, em 1995, apenas 17 anos. Dez anos antes, ao som do Bolero de Ravel, na periferia parisiense de Pantin, ela teve o gosto pela qualidade instrumental impulsionado pelo pai, interpretado no filme pelo entusiasmado Zinedine Soualem.
Distante da limitação academicista, Zahia é esquadrinhada pelo cinema de Marie-Castille Mention-Schaar de modo meteórico, porém bem estruturado. Lina El Arabi, que dá vida a Fettouma, a irmã de Zahia, outra instrumentista, pactua que música seja tempo e ritmo, mas ainda alinha música ao pulsar da vida. A postura de Zahia é mais severa, pressionada, aprende a exalar a música como uma conquista coletiva. No subtexto do filme está o respeito pelas culturas diferenciadas, a intolerância de vizinhos (que ouvem ensaios como "barulho") e o dia a dia respeitoso aos músicos, independente da autoridade da regente.
Entre repetição e persistência, pequenos fracassos pessoais e desafio a conservadores, Zahia adquire vivência, relevando interferências externas e prezando pela espontaneidade. Depois de alinhada à disputa no Festival de Cannes, por A good man (2020), a diretora Marie-Castille descreve uma carreira de retidão, regida pela esperança depositada na força da periferia de Stains. Personificando o maestro Celibidache, o ator Niels Arestrup (O profeta) favorece o despontar do mito contemporâneo ilustrado na figura da potente maestrina Zahia.
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