O afrofuturismo de Rayza de Mina ocupa a Casa dos Quatro durante o festival Julho das Pretas. Serigrafias, pinturas e souvenires estão na exposição para celebrar o que a artista chama de uma mistura de elementos mágicos. Nascida no Maranhão e moradora de São Sebastião desde a infância, a artista tem como inspiração as mulheres pretas e as divindades do panteão afro. "São pinturas figurativas", avisa. "Gosto de trabalhar mais com o simbólico do que com figuras realistas. São sempre figuras femininas negras, são as personagens que mais se destacam. Na minha pintura, elas são os desdobramentos de mulheres negras."
A exposição faz parte da agenda da primeira edição do Julho das Pretas, que celebra o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Rayza é uma das referências na pintura afrofuturista do DF. Desde que começou a produzir, ela investe na temática que acredita ser uma forma de linguagem capaz de abrir caminhos no combate à desigualdade, mas também uma maneira de expressar um universo que nem sempre encontra eco no circuito oficial da arte contemporânea. "Desde que comecei a pintar, sempre pintei uma realidade que queria que fosse possível. E sempre misturei com sonhos e símbolos imagéticos de poder. Minha pintura é sobre realmente criar uma estrutura para que essas realidades possam ser possíveis e que o afrofuturo seja cada vez mais palpável", diz.
Para a artista, o afrofuturismo fala de uma idealização. "É uma abordagem especulativa de um futuro que nos é tirado, tendo em vista que a população negra e africana vive sob esse ataque, esse genocídio iminente", explica. "O afrofuturismo vem especular o contrário, é uma resistência, um espólio de combate, de batalha. A gente mistura elementos mágicos, de sonho e tecnológicos para poder cavar cada vez mais a realidade que a gente quer para nosso povo."
Representada pela galeria A Pilastra, Rayza lamenta a falta de espaço para a grande quantidade de artistas periféricos do DF. "Sou representada por uma galeria e isso faz total diferença, mas são poucos os artistas do DF que têm alguém para representá-los. Sinto muitas dificuldades, assim como todos os artistas que vêm de onde venho. Basicamente a gente precisa sair do nosso habitat e se inserir em outro habitat e não necessariamente o público vai se identificar, porque a gente sempre acaba refletindo nossa realidade no nosso trabalho. Falta diálogo com as periferias", avalia.
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