Foi uma herança afetiva que levou Janette Dornellas até a ópera Dido e Enéas, que tem apresentações amanhã e domingo (30/6) no Teatro Galpão Hugo Rodas, no Espaço Cultural Renato Russo. Quando o diretor de ópera Francisco Frias morreu, em 2018, Janette herdou as partituras da obra de Henry Purcell com as anotações cênicas do amigo, com o qual havia trabalhado. À frente do Ópera Estúdio da Casa da Cultura Brasília, a soprano resolveu então montar Dido e Enéas mantendo as indicações de Frias.
O resultado foi uma montagem quase em parceria, já que Janette assina a direção cênica do espetáculo. "A concepção cênica é dele. Estava tudo escrito. E uma ideia que ele teve e que copiei em homenagem a ele é que a Dido sabe do destino dela, está presa a esse destino e o Frias fez com que ficasse presa na cena em um círculo de luz. Ela só sai para morrer. Achei interessante a metáfora. A partir disso, fui criando com os alunos. É uma composição um pouco mais sofisticada, rebuscada", conta Janette.
No libreto de Purcell, Dido é rainha de Cartago e sofre uma desilusão no relacionamento com o herói troiano Enéias, que tem a missão de criar o Império Romano. A morte é o destino da personagem. A obra é inspirada no poema épico Eneida, de Virgílio. É uma peça do período barroco, o que confere a ela uma série de particularidades musicais e históricas. Muitas das óperas dessa época são baseadas nas mitologias gregas e romanas. Purcell não fugiu à regra ao criar Dido e Eneias. A característica trágica é marcante, assim como o estilo musical. "A maneira de cantar o barroco não é a maneira de cantar os compositores mais recentes", explica Janette.
No período barroco, as orquestras eram menores, assim como as salas de espetáculos. Os instrumentos tinham menos volume sonoro, porque não era necessário terem alcance maior. Por isso, o resultado musical é diferente de uma grande ópera romântica ou mais moderna. No palco, 30 cantores desempenham os papéis e são acompanhados por uma orquestra de 10 músicos sob a regência do maestro Ângelo Dias, professor da Universidade Federal de Goiás. "É uma ópera contemplativa, para curtir mesmo. É muito bonita", garante Janette.