Crítica

O lado divertido da sofrência; e o mais inesperado, em cinema grego

Nosso verão daria um filme, um romance gay, invade as telas, com aspectos solares e divertidos de representatividade

Crítica // Nosso versão daria um filme ★★★★

Há 60 anos, a paisagem da Grécia rendeu um absoluto clássico do cinema, Zorba, o grego, e 25 anos depois um filme sobre libertação feminina, Shirley Valentine. É novamente pelas ilhas sempre paradisíacas dos arredores de Atenas que o cinema impulsiona uma pérola, ainda que de alcance muito restrito e baixo orçamento. Humor e completa falta de pretensão movimentam o novo filme de Zacharias Mavroeidis, que, no título norte-americano, chama-se Nosso verão com Carmen.

Com direção de fotografia e de arte praticamente dispensáveis, diante do deslumbramento com a natureza, a comédia se afirma na tentativa de uma dupla de amigos — Demosthenes (Yorgos Tsiantoulas), um tipo viril, mas muito delicado, e Nikitas (Andreas Lampropoulos), criativo e instável — em produzir um filme, a partir da montagem teatral Bichas. A edição do filme é um tanto irregular, mas o que sustenta a graça é a capacidade dos atores e ainda um humor discreto, sem excessos.

O filme vem fundamentado em questões como "autoconhecimento é enganação" e "(sim), bissexuais existem". O roteiro é constituído por tópicos que contrapõe comportamentos padrões de gays e ainda as opções de rotas alteradas (e escolhas autênticas) dos protagonistas. A literal nudez do protagonista é constante, especialmente, quando ele se encontra às margens do mar. Internamente, Demos igualmente se encontra despido. Ao longo do filme, ele revive uma paixão antiga, determinada por Panos (Nikolas Mihas), não consegue se descolar dos pais problemáticos e sofre com o apego junto a um novo amor: a cachorrinha Carmen (com quem mantém diálogos insuspeitos e inspirados). Sorte do espectador não haver peso desmedido nas existências de Demos e Nikitas. Também é muito curioso, e raro, ouvir um filme em grego.

 

Mais Lidas