Crítica

A consciência pesa, em Divertida Mente 2

Fervilham as emoções de Riley, a protagonista de Divertida Mente 2, que se vê acuada ao tentar demolir antigas convicções e administrar situações conflitantes

Crítica // Divertida Mente 2 ★★★★

Uma alta voltagem de ansiedade e ocasionais surtos de vergonha: quem não passou por isso na adolescência? Na base da tentativa de se ver popular entre novas amizades, a protagonista de Divertida Mente 2, Riley embarca não apenas nestas emoções, mas vê trasbordar, internamente, reações inesperadas e distantes do mais remoto controle, na nova aventura, em que investe na prática de esportes.

Cobrando foco, a treinadora de hóquei (o esporte escolhido) sabe da realidade de dispersão que assola os pupilos, daí recolher todos os celulares, a cada partida. É na convivência social, cada vez mais intensa, que Riley terá emoções represadas. Como moedas coletadas em vidro, o fluxo de emoções conhecidas, e as mais inatas como aquelas do primeiro filme (Raiva, Tristeza, Nojo, Medo e Alegria), se vê confinado. Dentro de si, Riley guarda um verdadeiro multiverso, a cargo da chamada Turma de Imaginação. De uma forma bem lúdica, o diretor Kelsey Mann trata de ética e de impulsos, sem nunca deixar de lado o verdadeiro toró de ideias que assola a menina.

Surtos atingem a personalidade da protagonista, que abriga um grande segredo e, progressivamente, na trama, conquista um senso de si. Personagem importante, a Alegria se vê ameaçada de findar, e uma das melhores tiradas do fluido Tédio, representado com excelência é justo essa: "A Alegria é tão cringe". A Inveja não se revela das melhores personagens, mas, em compensação a Vergonha é extremamente empática. Bem constituído, graficamente, o abismo do sarcasmo é uma das maiores sacadas do filme. Conceitos como valorizar o passado, as raízes, estão naturalmente inseridos na animação. No roteiro, inesperadas (e debochadas máximas, entre a molecada) são hilárias, entre as quais: "professora de artes ninguém respeita".

"Não sou boa o bastante" e "Eu sou uma pessoa legal" são os ápices na cabecinha da moça, que se vê desvinculada da família, e ilhada com outras garotas, numa colônia de práticas intensivas de hóquei. Com visual hilário, a Ansiedade, uma nova aliada, dá passagem livre aos operários (uns tipos bigodudos em ação) que retrabalham a mentalidade da púbere Riley. O ciclo de amigas de Riley, com importância para Bree e Grace, tende também a mudar. Um dado que deixa o filme da Disney-Pixar mais pálido está na ausência de personagens masculinos, mas que, possivelmente, assolarão o futuro conflito dela, em um esperado (e provável) Divertida Mente 3.

 

 

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