No palco, Sigmund Freud e C.S. Lewis conversam sobre a existência (ou não) de Deus. O primeiro, ancorado na ciência, não entende como o segundo, apegado à fé, pode acreditar na doutrina religiosa cristã. É um embate de mentes geniais. Freud inventou a psicanálise e Lewis, um mundo habitado por seres fantásticos e magia. O ator Odilon Wagner vive o psicanalista austríaco na peça A última sessão de Freud, um texto de Mark St. Germain, autor da Broadway, em cartaz no Teatro Unip. "Além de ser um texto brilhantemente escrito, é muito raro um ator conseguir ter um personagem tão potente. Não é comum na vida dos atores. A gente tem bons personagens durante a vida, mas esses grandes ícones mundiais são uma grande responsabilidade", avisa Wagner.
Dirigida por Elias Andreato, a peça é baseada no livro de um psiquiatra inglês que conviveu com Anna Freud, filha de Sigmund, e com o médico que acompanhou o psicanalista até o fim da vida. A religião e a existência de Deus era um dos temas fundamentais para Sigmund Freud e Mark St. Germain, autor da peça, escolheu confrontá-lo com C.S. Lewis por causa da conhecida veia religiosa do autor de As crônicas de Nárnia.
Na peça, Freud, que era judeu, está com 83 anos e acaba de chegar à Inglaterra em fuga do nazismo. Lewis é um jovem professor de destaque na Universidade de Oxford e aceita um convite do psicanalista para uma conversa. A peça se passa em 1939, quando Lewis já havia escrito nove livros. "Freud quer entender como um homem inteligente pode virar a casaca e se tornar cristão", conta Odilon Wagner, que foi indicado aos Prêmios Shell, APCA e Bibi Ferreira pelo trabalho.
Freud e Lewis se cutucam, se provocam, se ironizam. "A peça é muito engraçada porque os dois têm muito bom humor. Aliás, os grandes homens têm bom humor", acredita o ator. A linguagem acessível do texto deixa de fora qualquer hermetismo que uma discussão entre um cientista e um erudito cristão possa sugerir. "Não é uma aula sobre Freud ou uma tese sobre o Lewis", avisa Odilon Wagner. "É uma conversa entre dois homens numa linguagem absolutamente acessível, para qualquer pessoa. A beleza da comunicação é isso: você falar de coisas mais filosóficas de maneira que todo mundo entende."
Marcello Airoldi encarna o personagem de Lewis, que ele classifica como um homem sempre mergulhado no contentamento. "É um contraponto a um homem mais pesado, que é o Freud. Para ele, a força vital de existência é a espiritualidade. Tem uma luz o tempo todo que não se pode apagar nesse personagem", conta Airoldi, que lembra que o contraponto e o conflito estão presentes na peça do início ao fim.