Crítica

Amontoado de profundos impasses em 'Crônicas do Irã'

Caso a caso, diretores iranianos revelam no filme estruturado em dramas pessoais, casos de violação de liberdade

Crítica // Crônicas do Irã ★ ★ ★

Da precariedade de um filme rodado em uma semana, os diretores Ali Asgari e Alieveza Khatami conseguem, numa fita esquemática, denunciar opressão e abusos com um discurso forte o suficiente para colocá-los na seleção do segmento Um Certo Olhar do Festival de Cannes.

Valores iraniano-islâmicos, registros de elementos "impuros", burocracia e irregularidades sociais atravessam a tela, num filme em que até mesmo os diretores se arvoram a serem atores. No roteiro, eles reforçam a quase nula capacidade de personagens negociarem independência em guichês de burocráticas repartições e em ambientes que sufocam suas possibilidades profissionais.

As situações se avolumam em torno dos personagens múltiplos. Uma senhora teria tido o cachorro confiscado por policiais, outra jovem contesta ser a motorista de carro sujeita à multa por infração, o pai do bebê Davi se vê desautorizado a dar nome em nada iraniano ao pequeno filho e a menina Selena se prova desajustada em ostentar as tradicionais vestes da região.

De teor irônico, muitas das cenas escancaram bizarrices e afrontas à individualidade. Pesam seculares preceitos, a negativa a qualquer traço progressista e até mesmo a mutilação de obras de artes, além do descrédito a quem ostente tatuagens pelo corpo (um homem é claramente discriminado), além de o filme abraçar descabido machismo.

 

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