Artes cênicas

O Brasil de Lima é tema de peça em cartaz no teatro do CCBB

Montado pela Bruzun Company,  Os Bruzundangas leva para o palco as crônicas de Lima Barreto sobre o Brasil de 100 anos atrás

Com um pé na palhaçaria e outro na literatura, Os Bruzundangas desembarcam no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil para falar de um país que pouco mudou ao longo de um século. Dirigida por Renato Carrera e Dani Ornellas, a peça carregada de sátira leva para o palco uma adaptação do livro homônimo de Lima Barreto, um volume de crônicas nas quais o autor reflete sobre o Brasil das primeiras décadas do século 20. Os Bruzundangas lança oficialmente a Bruzun Company, formada pelos dois diretores, além de Hugo Germano e Jean Marcell Gatti, que também estão no espetáculo. 

Foi Renato Carrera quem primeiro se deparou com o livro de Lima Barreto e sugeriu a adaptação  à companhia. Há muito o grupo queria trabalhar com uma obra literária. Não seria a primeira vez, já que eles levaram ao palco espetáculos como Malala, a menina que queria ir para a escola, a partir do livro de Adriana Carranca, e O balcão, adaptação de peça de Jean Genet. 

Um dia, numa livraria, Carrera topou com a lombada de reunião de crônicas Os Bruzundungas. "O livro estava um pouco mais para fora que os outros, por isso falo que pulou para mim. Comecei a folhear e falei 'achei!'. E Dani topou", conta o diretor. A escrita de Lima Barreto encaixou como luva na busca da companhia. "A gente queria fazer algo mais cômico, tínhamos dúvida sobre que livro fazer, mas a vontade era fazer algo mais cômico, uma forma de chegar um pouco mais próximo do público em geral. Não queríamos fazer algo hermético. Foi uma busca, fomos atrás de algum clássico com essa pegada. E comecei a pensar: 'por que não um autor preto?'", diz.   

A ideia era também explorar outra vertente da obra de Lima Barreto e evitar a imagem muito propagada de um autor alcoólatra e que havia passado por internações psiquiátricas. "Tem muita palhaçaria, bufonaria, alguns momentos dramáticos, quando a gente fala de religião, do direito ao voto", avisa o diretor. "É um livro muito político, fala da Constituição, do Senado, da presidência. Também tem uma presença feminina grande e uma presença de artistas pretos, a isso a gente ficou bem atento. Queríamos um olhar para a ficha técnica diferente do que eu vinha trabalhando." 

Para chegar à montagem final, a companhia fez leituras em voz alta e, a partir desses ensaios, surgiu a estrutura da peça, que é feita como se fosse um conjunto de cenas sem, necessariamente, uma história com início, meio e fim. "Fui entendendo que o poder dramatúrgico estava nas vozes dos atores. Como no próprio livro ele cita o teatro de revista, levamos para o palco o teatro de revista, que tem o poder de criar cenas, do humor, da improvisação e da liberdade dos atores, sem perder a potência da palavra do Lima", explica Carrera.

 


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