Artes cênicas

Leona Cavalli encarna a loucura em monólogo de Erasmo de Rotterdam

Em adaptação de texto medieval, Leona Cavalli mergulha na sátira de Erasmo de Rotterdam para a religião e o governo

Escrito nos primeiros anos do século 16 por Erasmo de Rotterdam, Elogio da Loucura trata essa condição mental como uma divindade. Foi esse olhar diferente que cativou a atriz Leona Cavalli quando leu o livro pela primeira vez. Bastou para que quisesse adaptar o texto para o palco. Em cartaz no Teatro Unip, Elogio da loucura é um monólogo entoado por uma voz feminina que não se poupa de autoelogio e dispara críticas para todos os lados. "A loucura, na visão do Erasmo, é uma divindade que vem clamar por ser aceita e, através dessa aceitação, ela possibilita justamente a loucura da criatividade, da alegria, da libertação, do assumir-se como ser humano no qual a loucura faz parte da estrutura do ser", explica Leona.

Em cena, a loucura reflete sobre a sociedade, o poder, a religião, a arte e as amizades em um texto que mantém a estrutura da narrativa original de Rotterdam e traz uma contemporaneidade surpreendente. Embora o autor faça uma sátira à sociedade da época medieval, com crítica à Igreja e ao governo, há trechos que podem ser comparados a momentos contemporâneos. "E aí você vai vendo que pouca coisa mudou", repara Leona, que trabalhou na dramaturgia em parceria com Eduardo Figueiredo, diretor do espetáculo. "É um livro extremamente teatral porque é escrito na primeira pessoa, é um autoelogio, e ela não é louca, é absolutamente lúcida. Ao se expor, você vai percebendo a loucura do mundo,."

Outra motivação para levar o texto para o palco foi o ineditismo da montagem. A primeira versão foi realizada on-line, durante a pandemia, como parte do projeto Teatro em Casa, do Sesc, que viabilizou a produção e exibição de monólogos on-line enquanto todos estavam confinados. Nessa versão, a atriz, em diversos momentos, quebrava a ideia de quarta parede que separa público e palco para se dirigir diretamente à plateia, uma estratégia para manter a conexão. Na montagem presencial, ela manteve essas quebras, durante as quais aproveita para explicar que o texto é original e retirado diretamente do livro. "É uma adaptação no sentido de trazer para o palco, porque é um livro, mas é o texto original e isso é chocante", conta Leona que, no palco, tem a companhia de dois músicos para acompanhá-la durante um autoelogio tão medieval quanto contemporâneo.

 


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