Paulo Betti queria muito fazer um monólogo. Pediu o texto a um amigo, recebeu uma história linda e, quando foi ensaiar, se deparou com uma fala do personagem que não encaixou. "Ele dizia 'minha mãe tinha uma empregada que dizia assim…'. E vinha alguma coisa sobre ela. Percebi ali que não podia fazer aquilo porque minha mãe foi empregada doméstica", conta o ator. Como tinha conseguido patrocínio e estava pronto para começar os ensaios, decidiu escrever outro monólogo, dessa vez baseado em sua própria vida. Autobiografia autorizada, que Betti encena em Brasília, amanhã e domingo, no Teatro dos Bancários, é resultado de um mergulho profundo na ancestralidade do ator.
Indicado ao Prêmio Shell de Melhor Texto em 2015, o monólogo foi ao palco pela primeira vez há quase 10 anos. Foi tão bem recebido que Betti nunca deixou de encená-lo. Já passou por mais de 50 cidades com a peça na qual conta a história dos avós e dos pais, limitando a cronologia à própria infância e à adolescência. "A primeira coisa que bateu na hora de fazer uma autobiografia foi uma autocrítica: por que minha história merece ser contada como autobiografia em cena? O que tem de especial nela para ser contada? Fiquei achando que todas as pessoas têm uma história e ela é especial, merece ser contada", lembra o ator. "Mas eu tinha uma coisa que me aliviou desse pudor de contar minha própria história que é o fato de que nasci numa senzala", conta.
Quando os avós de Betti chegaram da Itália, no final do século 19, foram morar em uma antiga senzala localizada em uma fazenda próxima a um quilombo. "E outro fator que me justficava é que o meu avô, imigrante italiano, trabalhava como meeiro para um fazendeiro negro. Essa circunstância era um pouco rara na época", lembra o ator, que procura equilibrar o texto do monólogo entre o humor, o drama e a poesia. "Cinquenta por cento do monólogo é comédia, 25% é drama e 25% é poesia. Esses ingredientes, em conjunto, fazem com que o público se identifique muito. Então o desafio é que as pessoas queiram ver e não achem chato. As pessoas se identificam e passam a valorizar suas próprias histórias", acredita Paulo Betti.
A apresentação de Autobiografia autorizada é a primeira do projeto Mistura Geral — Artes Cênicas, que leva ao Teatro dos Bancários, até 26 de maio, vários espetáculos de artistas brasileiros. Neste sábado (11/5), antes do monólogo, a mulher de Betti, a atriz Dadá Coelho, apresenta a stand-up Cuscuz na mão. Na próxima semana, é a vez de Parem de falar mal da rotina, de Elisa Lucinda.
Serviços
Cuscuz na Mão
Com Dadá Coelho, às 18h, amanhã e domingo, no Teatro dos Bancários
Autobiografia Autorizada
Com Paulo Betti, amanhã e domingo, às 20h no Teatro dos Bancários
Saiba Mais
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