Cinema

Cotidiano bem realista: documentário recupera 80 anos de L.F. Verissimo

Sem sobressaltos ou grande dramaticidade, o dia a dia do escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo é captado em documentário de Angelo Defanti

O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo se tornou o centro do documentário Verissimo, de Angelo Defanti -  (crédito:  Sobretudo Produção/Divulgação)
O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo se tornou o centro do documentário Verissimo, de Angelo Defanti - (crédito: Sobretudo Produção/Divulgação)


Crítica // Verissimo ★★★

A emoção habita o introvertido escritor Luis Fernando Verissimo em momentos precisos: quando está cercado dos netos ou quando acompanha o desempenho do Inter numa tela de tevê. Quem esquadra momentos tão íntimos do escritor, em vivência alimentada por mais de sete anos, é o cineasta Angelo Defanti. Numa casa sólida, atopetada de livros, horas são preenchidas pelas sessões de fisioterapia do ilustre filho do gigante Erico Verissimo ("também cardíaco, mas mais social") com quem, Luis confidencia, não discutia literatura. No mais, o dia a dia do autor estampa na tela.

Modesto ("Não entendo nada da vida", diz), generoso e criterioso — tal qual nas crônicas — (e em textos como os de Comédias da vida privada e O analista de Bagé), Luis Fernando curte muito da solidão, em frente às câmeras, na mesma proporção em que é cortês com aproximações. Todos querem um naco do escritor e há intensa movimentação, à era dos seus 80 anos; ele vibra, nem tão exaltado como aqueles que o cercam. Sintético, prefere a perspicácia da observação e uma compreensível solidão. No filme, há reflexo de uma confiança conquistada. Descontraído, dentro do que seja, Verissimo crava algumas traquinagens como abusar dos doces e se dar ao luxo de, eventuais, bebericadas em álcool.


Duas perguntas // Fernanda Verissimo, filha de L. Fernando Verissimo

Como viu o universo do teu pai ser comprimido diante da rudeza da pandemia?

A pandemia foi complicada porque impediu que eles fizessem o que mais gostam: sair com amigos, viajar, manter a casa cheia. Mas como não pegaram covid e tinham meios de se manter confortavelmente, não foi tão terrível quanto para a maior parte das pessoas. O grande azar aconteceu no final da pandemia, quando meu pai teve o avc, do qual não se recuperou bem. Esse, sim, reduziu o universo dele.

O que a família achou de tomar parte do documentário? E qual o veredicto?

Acho que todos entramos na brincadeira sem pensar muito. Nem demos muita atenção ao Angelo (diretor)! Se tivéssemos pensado um pouco, talvez a sensação fosse de apreensão: já pensou o perigo de ter alguém andando pela sua casa com uma câmera e microfone aberto? Mas é claro que a apreensão teria sido desnecessária. Eu ainda não vi, mas minha irmã Mariana achou que o filme é uma homenagem afetuosa ao nosso pai e à família.

 

 

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postado em 03/05/2024 10:53 / atualizado em 03/05/2024 10:53
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