Entre méritos da mostra de cinema Mulheres Mágicas — Reinvenções da bruxa no cinema, que chega à reta final, uma das curadoras, Juliana Gusman, destaca objetivos como o de recuperar, positivamente, a força disruptiva de pessoas que desafiaram e ainda desafiam, mesmo sob ameaça, modos dominantes de ser e estar no mundo. "Repensar e alargar a figura da bruxa: se a literatura sobre o tema prioriza a história da perseguição e do extermínio sistemático de mulheres cisgêneras lançadas à fogueira a partir do século 15, sobretudo no contexto europeu, alinhamos filmes que nos convocam a imaginar a história não contada de outros corpos que, muito provavelmente, também se tornaram cinzas", pontua Gusman.
Parceira de outra curadora (Tatiana Mitre), Carla Italiano demarca a ação da mostra, capaz de revelar a caça às bruxas que acontece contemporaneamente em vários países, com casos no continente africano, com perseguição de mulheres. "O preconceito que recai por vezes ignora todo o conhecimento carregado por ela sobre a cura e as plantas ancestrais", opina.
Neste sábado (20/4), a programação será no Jardim do CCBB (SCES tr. 2 lote 22), com exibição, ao ar livre e de graça, de uma pérola do mestre Hayao Miyazaki: O serviço de entregas da Kiki. A sessão será às 16h30, mesmo horário em que (no mesmo local e hora), o aniversário da cidade (21/4) será celebrado com Branca de Neve e os sete anões (1937). Clássico da Disney, o primeiro longa de animação norte-americano teve direção de David Hand e mais cinco homens.
Noutra via, a edição da mostra contabilizou muitos títulos dirigidos por mulheres. "Nossas identidades influenciam nossos modos de perceber e estar no mundo e, consequentemente, nossas possibilidades de expressão artística e criativa — e não é por acaso que grande parte das obras mais desafiadoras da mostra são dirigidas por mulheres —, diretores homens podem vir a exercitar a escuta e a reflexão crítica diante de conhecimentos emancipatórios — feministas, antirracistas, decoloniais — e propor formas interessantes de pensar as bruxas. As nossas identidades de gênero podem ser determinantes, mas nunca deterministas", conclui Juliana Gusman.
Saiba Mais