Crítica // 20.000 espécies de abelhas ★ ★ ★ ★
Justo o festival internacional de cinema de Berlim, que aboliu diferenciação de gênero para os prêmios de interpretação, entregou para a pequena atriz Sofía Otero, aos 9 anos, o Urso de Prata pela atuação no papel de uma menina transgênero, no filme de estreia de Estibaliz Urresola Solaguren. Os cabelos compridos, as unhas pintadas e a adoração por sereias apontam um mundo diferenciado para Cocó, o menino (em transformação interna) cuja família teima em chamar de Aitor. Ane e Gorka, os pais (papéis de Patricia López Arnaiz e Martxelo Rubio) se notam sem coordenadas, no filme ambientado na região do País Basco.
De férias, as agitadas crianças como Eneko e Neria, irmãos de Aitor, travam contato com as esculturas feitas em família e cuja matéria-prima está intimamente ligada à apicultura (com a cera de abelha definindo as formas das obras moldadas). Um mundo de julgamentos (externos) sufoca os toques de feminilidade da criança que está disposta (e clama) pelo tratamento junto a adjetivos como "nervosa", "tranquila" e urina sentada. A mãe, em casa, sempre desencorajou divisões entre "as coisas de meninos" e "as coisas de meninas", mas nunca foi a fundo nisso.
Falado em espanhol e basco, o filme afunila em momentos de acolhimento e de velado preconceito, tudo no tom da sutileza. Descobertas de fé, convicção e pecado circundam o filme que carrega nas metáforas.