A culinária, muitas vezes, envolve mais do que apenas o paladar. Um simples almoço pode evocar emoções, sentimentos e lembranças nostálgicas, sejam de momentos, pessoas ou lugares. É a partir destas experiências que vêm o conceito de comida afetiva — por meio de pratos gastronômicos, chefs da cidade conseguem proporcionar aos clientes sensações de conforto e bem-estar, fazendo com que eles se sintam mais próximos das cidades em que nasceram, de parentes e amigos que já não estão mais aqui ou de hábitos da infância e adolescência.
Apesar de recente, o conceito de comida afetiva, também conhecido como comfort food, toma conta de muitos restaurantes da cidade. Um desses exemplos é o Confraria Chico Mineiro, voltado para a culinária caseira. "A comida, por ser sensorial e primordial para nossa sobrevivência, sempre remeteu os povos a boas e más lembranças", explica Megume Suda, responsável pela cozinha da casa.
Segundo Meg, o segredo por trás da comida afetiva, em grande partes das vezes, é a simplicidade. "Comida boa não necessariamente é sinônimo de sofisticação; um simples arroz, feijão, ovo frito, por exemplo, quando bem feitos, podem remeter às melhores lembranças, seja da infância, de pessoas e entes queridos, de lugares visitados, de vivências e experiências", aponta.
Para Rodrigo Moreira, sócio do Josefina, as comidas afetivas "fazem-nos sentir em casa, independentemente de onde estejamos". "Eu penso muito em pratos que estiveram presentes em momentos de nossas vidas, principalmente na infância. Utilizar ingredientes e receitas que foram marcantes pode despertar lembranças quase esquecidas. Como o bom feijão, o pudim de leite condensado, o bolinho de arroz, o doce de banana, e replicá-los com carinho e autenticidade", descreve Rodrigo.
Afeto importado
Para além do conhecido afeto das cozinhas brasileiras, cantinas e pizzarias de tradição italiana também carregam importante contribuição para a culinária afetiva. Exemplo disso é o restaurante Don Romano, que dispõe de três unidades, localizadas no Lago Sul, na Asa Norte e em Águas Claras — somente delivery —, respectivamente. O estabelecimento é especializado em massas artesanais, sobretudo as pizzas feitas com massa de fermentação longa e assadas em forno à lenha.
Inaugurado em 1988, o Don Romano é comandado pelo restaurateur Wesley Moreira, que ressalta a importância de se cultivar uma boa relação com clientes e fornecedores como meio de manter viva a característica afetiva do restaurante. "O propósito de existir uma empresa de gastronomia vai muito além da finalidade de dar lucro. É necessário empenho diário com foco no propósito e valores para que tenha uma equipe motivada, estável e colaborativa", afirma.
Wesley destaca como prato carro-chefe da cantina e pizzaria o nhoque della mama (R$ 71), massa fresca feita à base de batatas e requeijão Scala, servida gratinada com frango desfiado e molho sugo. Outro ponto alto do cardápio é a pizza Cana Brava (R$ 73), que leva no recheio queijo muçarela, presunto, calabresa, bacon, cebola e ovos. A pizza é assim chamada em homenagem a um antigo cliente, que solicitou a inclusão do sabor de pizza no cardápio do Don Romano.
Memórias gastronômicas
Com raízes em João Pessoa, Paraíba, o Mangai traz para a capital federal a verdadeira identidade nordestina. "O Mangai é um restaurante de comida de afeto, pois proporciona uma rememoração de algo que muitas pessoas já viveram, como o tempo no Nordeste, as receitas da sua infância, o cafezinho com a avó", lista Paulo Braga, gerente de operações do Mangai Brasília. O sentimento familiar vem desde a decoração do local, com elementos representativos da cultura nordestina, até o cardápio, recheado de ingredientes típicos da região do país.
Dentre os variados pratos do menu, destaca-se o baião de dois e carne de sol (R$ 60), arroz envolto em nata com queijo coalho e charque em cubos, feijão verde, servido com carne de sol em tiras refogada na manteiga da terra e cebolas. Outra opção é a chapa de camarão e carne de sol (R$ 185 — de 2 a 3 pessoas), camarões e carne de sol refogados na manteiga da terra acompanhados de macaxeira frita, queijo coalho, cebola e farofa.
Simplicidade que sacia
Sabe aquele prato de comida que, logo na primeira garfada, te desperta o melhor dos sentimentos e te transporta imediatamente para algum lugar ou momento? A Confraria Chico Mineiro se tornou um tradicional reduto de culinária afetiva no quadradinho. Afinal de contas, 15 anos de história não é para qualquer um. O restaurante é conhecido por servir opções variadas, de pratos comerciais a porções para petiscar com os amigos.
Segundo Megume Suda, responsável pela cozinha da Confraria Chico Mineiro, a comida bem feita, por mais simples que seja, é capaz de carregar afeto e o sentimento de quem a prepara. "Comida boa não necessariamente é sinônimo de sofisticação. Um simples arroz com feijão e ovo frito, por exemplo, quando bem feitos, podem remeter às melhores lembranças", explica. Meg, como também é conhecida, reforça o compromisso do estabelecimento com o tratamento correto que cada ingrediente merece.
Ela destaca o filé da confraria como uma das melhores opções no menu quando o assunto é cozinha afetiva. O prato pode ser feito com filé mignon (R$ 62) ou filé de frango (R$ 54), sempre acompanhado de arroz, feijão carioca, ovo frito e farofa de bacon com calabresa. Servido como prato executivo, o filé da confraria é precedido por uma entrada, que varia de acordo com a disponibilidade de ingredientes do dia.