Na releitura do clássico shakespereano imaginada pela diretora Fernanda Jacob, o protagonismo é de um homem preto, cujas competências são preteridas em favor de alguém mais jovem. Em Orun de Iago, que Fernanda leva ao Teatro Sesc Garagem de nesta sexta-feira (12/4), no sábado (13/4) e no domingo (14/4), o Otelo, de William Shakespeare ganha novos contornos e novas interpretações.
A peça é fruto de uma inquietação da diretora de montar clássicos da dramaturgia internacional com atores protagonistas negros. Daniel Landim faz o Iago criado por Shakespeare e lapidado por Fernanda. "Ele bebe da alma de Otelo e faz um Otelo à brasileira. Ela mergulha nesse personagem que é o Iago que, dentro da dramaturgia clássica do teatro, é um dos personagens mais inquietantes, complexos e enigmáticos. Fernanda o transforma num homem negro vivendo na sociedade brasileira", conta Daniel.
No clássico de Shakespeare, Iago odeia Otelo por ter sido preterido, apesar da lealdade ao amigo e chefe, por isso cria uma intriga que envolve traição e ciúmes. Na montagem de Fernanda, a trama é trazida para a contemporaneidade e recebe toques de fake news, desinformação e perversidade. Caos e corrupção pairam no ambiente no qual Iago é deixado de lado por Otelo. "E dentro de todo esse contesto, Iago é um homem negro, militar. A diretora mostra o lado humano desse personagem, a complexidade que é o corpo preto nessa sociedade da era da desinformação e da desumanização", explica Landim.