Cinema

Crise entre adoecidos: confira crítica do filme com Marieta Severo

Longa-metragem Domingo à tarde explora cotidiano privilegiado de idosa, que é abalado com o convivência de doenças

Crítica // Domingo à noite ★ ★ ★

Mais do que incertezas próprias do futuro, uma densa problemática que trata do desmonte na fluência das recordações acumuladas, por décadas, lidera o drama permanente implantado no filme Domingo à noite. Com direção de André Bushatsky, e recheado por música clássica, o filme analisa conflitos com necessidade de ação imediata dentro de um núcleo familiar em que a demência, fulminantemente, se instala, por causa dos efeitos do Mal de Alzheimer.

Atuante, dentro de algumas limitações da idade, Margot (Marieta Severo) é uma atriz dedicada e paciente que assimila, mesmo com a ausência dos filhos Francine (Natália Lage) e Guto (Johnnas Oliva), os efeitos da doença junto ao marido Antônio (Zécarlos Machado). Ameaças de internação e o uso regular de remédios são alguns adendos na isolada rotina (ambientada num local paradisíaco) do casal.

Transparente e honesta, Margot lida com resignação, mesmo em momentos exaustivos vividos ao lado do escritor. O roteiro do filme, assinado por Bruno Gonzalez, rende boa oportunidade para uma interpretação introspectiva de Marieta Severo, que foi premiada melhor atriz no Madrid Film Awards. Aos 77 anos, Marieta precedeu o bafafá da entrega do Oscar para a também experiente atriz Michelle Yeoh, consagrada, no ano passado, por Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.

Num filme de grande densidade emocional, há eficiência do diretor em não exagerar no previsto climão, de natural adesão ao roteiro. Desilusões profissionais do casal, ligado ao mundo das artes, e a evidente riqueza de posses de ambos acentuam o inevitável peso de um diagnóstico de incontornável crise. No papel da filha ressentida, mas que age em prol da harmonia, Natália Lage traz muita vitalidade ao longa.

 

 

Mais Lidas