Quando o ator Gilson de Barros apresentou a ideia da Trilogia Grande Sertão: Veredas pela primeira vez para o diretor Amir Haddad, achou que teria como retorno uma ideia de montagem mais tradicional. "No primeiro ensaio, a visão que eu tinha de um espetáculo com movimento, luz e som foi embora", conta o ator. "Amir disse: nada disso, você vai ficar sentado contando a história pra gente."
Foi assim que a Trilogia construída com trechos do romance mais importante de João Guimarães Rosa ganhou vida. Gilson foi então aprender o que Haddad chama de "interpretação narrativa" para viver Riobaldo e O diabo na rua, no meio do redemunho, primeira e segunda parte do conjunto que terá ainda O julgamento de Zé Bebelo, em fase de produção. Gilson conta que a montagem não tem cenário nem som.
A luz branca e simples está direcionada para a cabeça do ator, que permanece sentado em um banco durante a peça, como se estivesse conversando com a plateia. "Eu crio no espectador, na cabeça dele, todo o cenário físico e emocional proposto por Guimarães Rosa no Grande Sertão: Veredas", explica. "E o espectador experimenta novamente a sensação de leitura, agora ampliada por um ator na frente dele."
O processo de construção do texto foi realizado inteiramente por Gilson, que estudou o texto de Rosa e compilou trechos para construir a trilogia. "Riobaldo é um recorte dos amores dentro do livro", explica. "No segundo recorte, trago a dialética entre o bem e o mal, deus e diabo, que também está no livro", diz. No método de atuação proposto por Haddad, que assina a direção da peça, a intenção é reproduzir ao máximo a ideia da leitura. "Na nossa escola de atores do Ocidente, a gente estuda interpretação dramática. A interpretação narrativa é o oposto, é seco de movimento", avisa Gilson.