Em cartaz há oito anos, a peça A tropa teve uma longevidade que o ator Otávio Augusto, 79 anos, considera surpreendente. Dirigida por César Augusto e com o próprio Otávio no papel de um pai confrontado por vários embates diante de filhos tão diferentes, a peça está em cartaz no Teatro Unip neste sábado (27/4) e no domingo (28/4) com um elenco que tem ainda Alexandre Menezes, Daniel Marano, Alexandre Galindo e André Rosa.
Do texto e das falas dos personagens emerge um Brasil polarizado. "Nesse tempo todo de carreira, nunca fiquei tantos anos em cartaz com o mesmo espetáculo", conta Otávio Augusto. "Acho que isso se deve muito ao texto, que foi escrito num momento (2015) em que o Brasil estava apenas no início de um processo de polarização política que veio a se tornar muito forte; então, conforme o tempo passa e a situação se acirra, o texto renova sua vitalidade."
A peça tomou forma a partir de um convite de César Augusto e do autor do texto, Gustavo Pinheiro. Otávio Augusto conta que gostou muito da forma como a dramaturgia de A tropa equilibra o humor e a veemência da discussão familiar, humana e política. "E o fato de ser uma equipe jovem também me estimulou muito. Teatro é o meu grande exercício. Desde que comecei a atuar, sempre fui ligado a grupos e elencos mais jovens. Aprendo muito com eles", garante o ator, um veterano do palco e da televisão, com participação em mais de 20 novelas, incluindo clássicos como Selva de pedra, Vamp e A Próxima vítima. Em entrevista ao Divirta-se, ele conta como A tropa é, também, um retrato do Brasil contemporâneo.
Entrevista//Otávio Augusto
O que A tropa diz sobre o Brasil?
A peça é um retrato de um Brasil dividido. Cada personagem tem um perfil psicológico e político inteiramente diverso. O confronto dessas individualidades é o que faz a peça acontecer. São quatro filhos e um pai, ou seja, uma família, obrigados à convivência. Os conflitos dos personagens espelham as contradições do próprio país. Acho que a mensagem do texto é um convite à reflexão, mais do que apontar um caminho, defender um lado. Aliás, esse é um grande mérito do texto. Ele não é partidário, mas também não é irresponsável.
Você encontra reflexos dos tempos contemporâneos nesse texto?
Sem dúvida. A peça é quase premonitória. Ela consegue discutir temas muito atuais e muito sensíveis, mas sem abrir mão do humor. E a reação da plateia tem nos surpreendido muito. Eles comentam alto, interferem no espetáculo o tempo todo. É um mérito da direção também, que explora com muita habilidade os momentos onde o drama se alterna com a comédia, os silêncios. É uma peça que provoca muitas risadas, mas também muitos silêncios... silêncios preenchidos. São momentos onde a consciência do espectador está sendo convidada a refletir sobre o que está sendo discutido em cena.
Qual o maior desafio, para você, na montagem de A tropa e na construção do personagem do pai?
É sempre um desafio interpretar alguém diferente de você. Mas eu particularmente adoro esse tipo de desafio. Acho que sou ator justamente por isso. É muito estimulante procurar caminhos menos óbvios de interpretação. Talvez a primeira escolha para interpretar um personagem autoritário e desprezível seja esvaziar o humor. Mas eu busco exatamente o contrário, tento explorar o lado mais patético, mais cômico e até mais carismático dessa figura.
Serviço
A Tropa
Direção: Cesar Augusto. Com Otavio Augusto, Alexandre Menezes, Daniel Marano, Alexandre Galindo e André Rosa. Sábado (27/4), às 20h, e domingo (28/4), às 19h30, no Teatro UNIP (SGAS 913 - Asa Sul). Ingressos: de R$ 120 a R$ 25 (plateia popular, meia), no Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/90880/d/239355) e na Belini (113 Sul)
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