As histórias da própria família orientaram a atriz e diretora Soledad Garcia na criação do espetáculo Memória matriz, que a Cia. Lumiato estreia no Teatro da Caixa Cultural, a partir desta sexta-feira (22/3). No palco, o teatro de sombras conduz o público pelos meandros delicados da relação entre mãe e filha e pelo questionamento de heranças sociais e culturais que acabam por moldar as escolhas das personagens.
Neta e sobrinha de costureiras, a argentina Soledad buscou inspiração nas mulheres da família para levar ao palco uma trama que também tem a intenção de refletir sobre problemas atemporais e universais. "Retomamos as histórias de quatro gerações de mulheres, são histórias que eu escutava de minhas avós e minhas tias. Eu queria trazer essas histórias, mas de forma universal, para poder chegar a todas as pessoas, porque são trajetórias que terminam sendo comuns a todas", conta Soledad, que também bebeu nas ideias de Simone de Beauvoir para criar Memória matriz.
O espetáculo começou a ser gerado em 2020 e retoma um ambiente dos anos 1950, mas a atriz e diretora garante que há certa atemporalidade na dramaturgia. "Os mandatos sociais que nos atravessaram em outros momentos históricos eram muito mais fortes, mas hoje continuamos tendo as mesmas determinações. É um espetáculo muito simbólico, então não tem um espaço cênico, é teatro de sombras, as relações são simbólicas, o tempo também, não é realista", avisa. Na narrativa, era importante para Soledad que as personagens tivessem escolhas, embora nem sempre isso tenha sido uma realidade na história da vida de mulheres que forneceram a matéria-prima para o espetáculo.
Memória matriz é construído com sombras, mas também faz uso de projeções de fotografias antigas colhidas no arquivo familiar da diretora. Por meio de retroprojetores, os slides ganham vida e interagem com as sombras e os atores graças à manipulação de luz realizada por Thiago Bressani, que fundou a Cia. Lumiato com Soledad, há mais de 10 anos.