Artes cênicas

Beckett ganha toque de humor ao subir ao palco com a palhaçaria

Eid Ribeiro mergulha na palhaçaria ao dirigir peça do criador do teatro do absurdo

Cena de Fim de partida: linguagem tragicômica -  (crédito: André Veloso/Divulgação)
Cena de Fim de partida: linguagem tragicômica - (crédito: André Veloso/Divulgação)

Na montagem do diretor mineiro Eid Ribeiro para Fim de partida, um texto do irlandês Samuel Beckett, palhaços ocupam o palco em um exercício de releitura que aproxima a linguagem absurda do humor. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em temporada até 21 de abril, a peça tem à frente dois palhaços da Trupe Garnizé vividos por pai e filho, os atores Francisco e Victor Dornellas, respectivamente.

Explorando a linguagem da palhaçaria, Ribeiro conta a história imaginada por Beckett: quatro pessoas presas em um abrigo em uma situação apocalíptica tentam sobreviver. Hamm e Clov, vividos por Francisco e Victor, protagonizam a narrativa, que se passa em um ambiente asfixiante e traz reflexões sobre a condição humana, detalhe sempre presente nos textos do dramaturgo. Além dos dois, também estão em cena Nell e Nagg, este último vivido por João Santos, também assistente de direção.

Ribeiro incorporou à montagem as dificuldades cognitivas e de mobilidade de Francisco, 79 anos, que sofreu dois AVCs recentemente, assim como toda a linguagem da palhaçaria comum à dupla de atores. "Acho muito impressionante a ousadia de abordar Beckett, que é um autor muito associado ao rigor, com dois palhaços", conta João Santos. "Beckett direciona muito o que entendia da cena: tem muita rubrica, pausa, luz, indicação de cenografia e maquiagem. E, de repente, tem esse real incontornável e imponderável do palhaço, com uma linguagem muito mais carregada de reação do público com o aqui e o agora, com autodeboche e um real mais presente mesmo, mais sentido na pele."

A combinação, ele acredita, funcionou porque não há como fugir do humor em Beckett. "Durante a temporada em Belo Horizonte ficou evidente como não abordar esse texto e algum traço de humor no Beckett é um erro", diz João. Para ele, foi um acerto trazer elementos da comédia para Fim de partida. "Meu diretor e o irlandês têm uma coisa muito comum, no fim das contas, tem uma coisa muito forte do cinema mudo, de Charles Chaplin, de Buster Keaton, com quem Beckett trabalhou, inclusive, diretamente", garante.

 


  • Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com  Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
    Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Foto: André Veloso
  • Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com  Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
    Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Foto: André Veloso
  • Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com  Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
    Fim de partida, peça de Samuel Beckett dirigida pelo mineiro Eid Ribeiro. Com Francisco Dornellas, Victor Dornellas, João Santos e Marina Viana, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Foto: André Veloso/Divulgação
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postado em 29/03/2024 07:00
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