Crítica // Saudosa maloca ★ ★ ★
Aos poucos, o espectador de Saudosa maloca desvenda a narrativa do longa assinado por Pedro Serrano e estrelado por Paulo Miklos. Num palacete abandonado, estão concentradas as aventuras de Adoniran (Miklos) que puxa da memória enredos de causos vividos e narrados para o garçom Cícero (Sidney Santiago Kuanza). O vocabulário de Adoniran Barbosa segue ileso, e está lá, lapidado no roteiro: vorta, frexada, mariposa e cheguêmos.
Salpicados de amizade e singeleza, os causos do cantor e compositor serão contados. Direto e simples, ele é capaz de arranques como "quem gosta de conversa é telefone" — ao cortar o papo com o garçom que ele teima em chamar de Ciço.
Mocozado, ao lado de Mato Grosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado, sempre eficiente), Adoniran confirma, por vezes, que "malandragem é fome". Modulado no tempo, o filme aposta na vida e obra do homem atento ao deambulante Mané (inconformado com o sumiço de Inez, num universo em que reverbera a letra de Apaga o fogo Mané), à falta de sono de Dona Julia (mãe do Joca, incapaz de dormir, enquanto ele não chegar) e ao arrasador destino da cortejada Iracema (Leilah Moreno).
Sem ser retumbante, o filme celebra a festividade e uma ginga nem tão cintilante, mas que dá conta de riso ou outro, a partir do consumo de "mé", do dia a dia de quem encara o trabalho como algo "pornográfico" e dos espertos que investem na destreza de roubar bolinhos das animadas mesas de bar.
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