Crítica // Garra de ferro ★ ★ ★ ★
Revólveres, troféus e um regular senso de amaldiçoamento: tudo isso cabe, sob medida, na prateleira coletiva do clã Von Erich que, mais do que parentes, estão unidos, na profissão de lutadores, pelo rigor da disciplina e pela inabalável fraternidade. Shows falsos, com combinada encenação e muita autopromoção faziam a cabeça dos telespectadores de luta livre, dos anos 1980, no qual os Von Erich eram astros. Mas não é a superioridade da trupe que move o longa idealizado por Sean Durkin — a empatia junto à família de deserdados, que sofrem sucessivos desfalques, norteia Garra de ferro. Desorientação, chutes na costela e joelhadas na mandíbula acabam sendo o de menos.
O roteiro se desenvolve para espelhar cada quebra de confiança estabelecida por um pai abusivo, endeusado pelos filhos e interpretado à perfeição pelo coadjuvante Holt McCallany. Inexperiente na vida, quem monopoliza a jornada coletiva dos irmãos é Kevin (Zac Efron), quase virginal, antes do casamento com Pam (Lily James). Praticamente uma matilha que esconde as lágrimas, a cada adversidade, os irmãos passam por uma cruel seleção natural em que os golpes mais duros transcorrem no dia a dia.
O diretor registra, com teor sincero, os bastidores das lutas, da formação dos campeões e as provocações, no reduto da mídia especializada; mas focaliza, de verdade, a amputação de sonhos, a definitiva opressão paterna e a breve libertação do mundo rústico e severo, a partir do amor nutrido entre todos os irmãos. Um tratado de cinema sobre o apego desmedido e irracional a sonhos de terceiros.
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