Crítica // Moneyboys ★ ★ ★
"Os que sobram (sem casamento) são os que ninguém quer". É a partir desta típica "sabedoria" de um conservador ancião chinês, inserido no enredo de Moneyboys, que o protagonista Fei (Kai Ko) vai, in loco, verificar da inaptidão para seguir convivendo com a família, mais de cinco anos depois de, à distância, ter se jogado em condições mundanas. Segundo um ancestral, a família Zhang teria perdido prestígio diante do envolvimento de Fei com uma rede de prostituição masculina.
Agressões físicas são quase nada no cenário em que Fei vive a amargura do afastamento de Xiaolai (J.C. Lin), que ele tem como seu grande amor. Entre a opulência experimentada na cidade grande e o apelo do dinheiro fácil, o protagonista se vê completamente descolado da aldeia em que nasceu, neste filme do chinês C.B. Yi, que, tendo estudado em Viena (Áustria), goza de olhar cosmopolita, mas sem nunca renegar a admiração, por exemplo, pelos filmes do esteta taiwanês Hou Hsiao-Hsien (de títulos como A viagem do balão vermelho e A assassina).
Uma das qualidades do diretor é cercar vidas de profissionais do sexo, sem nunca incorrer em imagens escandalosas. O que está em jogo é a riqueza interior de cada personagem, como no caso do sofrido Long (Yufan Bai), um apaixonado "primo" de Fei, disposto a enfrentar muitas adversidades e o desprezo do tutor, quando também se inclina à marginalidade. Com imagens muito elaboradas (tanto no meio rural quanto em centro desenvolvido), Moneyboys aborda temas como a infinita abnegação, casamento de aparências, a hipocrisia e a convivência com a morte e a finitude dos sonhos.
Alinhado aos competidores da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, Moneyboys desbrava, com discrição, o contraste de visões na República da China, em que muitos têm por ideal, casamentos, relações estáveis e a investida em bens como a casa própria. Balançam os milenares valores asiáticos mais arraigados, pela relativa libertação empreendida por Fei e Long.