Crítica // Nosso Lar 2 — Os mensageiros ###
Uma experiência reconfortante brota de Nosso Lar 2 — Os mensageiros, que apela para a propagação do conhecimento que "faz toda a diferença") e enfatiza a ajuda, como "base de tudo". Depois do documentário Chico para sempre, o cineasta Wagner de Assis, que, há 13 anos, comandou o hit difundido em mais de 40 países, retoma a adaptação em cinema dos enunciados vertidos em livros de Chcio Xavier. Aniceto (Edson Celulari) tem complexa missão, estendida para um grupo de anjos que inclui, entre outros, o médico André Luiz (Renato Prieto): da cidade espiritual de Nosso Lar. Todos devem explorar a "escola do mundo" e se aplicar num projeto de "ideais nobres" em prol do bem maior que pode cercar viventes inclinados a se desgarrarem.
Antes de os personagens serem apresentados, o filme indica "um fato" (e não uma "crença"): "a morte não existe". Ultrapassada a indicação impositiva, o filme, que desencoraja a contraposição de "céu e inferno", fica vocacionado à assimilação muito cômoda. Além da qualidade da direção de arte assinada por Ula Schliemann, a narrativa é mais cativante: entre muito estímulo a atos de caridade, os personagens têm a trajetória descrita em camadas, com muita complexidade. Otávio (Felipe de Carolis) não sabe conduzir a própria mediunidade, enquanto Isidoro (Mouhamed Harfouch), mesmo administrando compaixão, não dá conta de moderar a inflexibilidade. Vingança e tranquilidade estão ainda no caminho do endinheirado Fernando (Rafa Sieg), outro personagem fundamental.
As tramas, intrincadas, abordam temas como os impulsos suicidas, perpetuação de ações benéficas e não perdoam visões de tipos geniosos e vaidosos. Há um exagero na citação (afrontosa) aos "iluminados, limpinhos", que ditam em excesso, incomodam. Grande acerto, no roteiro, vem da quase abolição do sentimentalismo (sempre associados ao filão de filmes religiosos), numa vertente menos associadas a fitas como A cabana e Divaldo. "Quem se desespera já perdeu metade da luta" destaca uma sentença do filme, que não valoriza o plano material e prega a capacidade intermitente de se amar.
Capaz de abraçar até uns filetes de humor, o filme tem passagens que acalmam, além de desenvolver o tópico da reconciliação. Também é interessante a perspectiva de que os mensageiros tragam de lá desafios que perpassam a anulação do mal interior de seus protegidos. No fim, pesa mesmo o sentimento de regeneração emanado por Nosso Lar.