Crítica // Vidas passadas ####
Distanciamento cultural e físico prevalecem em Vidas passadas, sensível longa assinado pela diretora e roteirista Celine Song. Mas o tom maior é de romance, ainda que implícito. A dado momento, o casal (latente) de amigos se põe à prova: "Estamos namorando, por acaso?". É nas hipóteses e incertezas, tão bem reverberadas no clássico de Sofia Coppola Encontros e desencontros (2003), que os sentimentos de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo) se formulam.
A expressão budista in-yun — que compreende ramificações de aproximação entre pessoas, e que direcionam o destino — parece calcificar a relação entre a lânguida e ambiciosa escritora Nora e o polido engenheiro, que ela define como "másculo", perdidos entre ganhos e desilusões das vidas (quando ainda são muito imaturos) que, num quadro de cinema, literalmente se bifurcam. Décadas redefinem a felicidade no ar, apenas insinuada, no roteiro original deste filme que é finalista entre os selecionados para o Oscar 2024. As interações sempre civilizadas se afirmam numa vida intermediada pelo uso de skype e demais tecnologias. Já moradora de Nova York, Nora assume as saudades (mútuas, aliás), e o casal de antigos amigos conta meses para um reencontro real e que envolva, de fato, a presença física.
Ao longo dos anos, depois de uma residência artística, Nora carrega um casamento, ao lado de Arthur (John Magaro, ator de fitas como Carol e A grande aposta). Ele se apresenta seguro, entre alguns leves impasses. Com muitos recortes de tempo, impressiona a capacidade de Celine Song tornar coesa e honesta a simples adaptação de um romance para as telas. Equilibrando tradição e arejamento contemporâneo, a trama tem muito a dizer, com precisa objetividade; e, na tela, está tudo lá: desde o peso dos sentimentos até os desejos mais inviáveis.
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