A vontade de conversar com o público infantil e o desafio de produzir um espetáculo sobre memórias para as crianças guiaram a companhia goiana Ateliê do Gesto na concepção de Fica comigo, em cartaz a partir desta sexta-feira (12/1) e até domingo (14/1) na Caixa Cultural. "Tivemos uma preocupação muito grande em fornecer camadas de significados e de estímulos às percepções das crianças. A ideia é que o espetáculo possa atingir crianças de várias idades e com várias capacidades de compreensão", explica Daniel Calvet, diretor criativo da companhia ao lado de João Paulo Gross.
Na narrativa criada pelo Ateliê do Gesto, um guardador de memórias se empenha em empilhar lembranças novas em um porão quando encontra três bonecos com os quais já havia trabalhado. Os quatro personagens passam então a passear pelas próprias recordações e a reviver momentos alegres, mas também de frustrações e tristezas. As emoções despertadas pela experiência conduzem público e bailarinos por uma viagem lúdica e poética.
Os personagens percorrem momentos e memórias difíceis de guardar numa tentativa de mostrar às crianças o quão humano são os sentimentos quando se trata de lembrar coisas nem sempre alegres, mas que fazem parte dos acontecimentos da vida. "O mote foi falar sobre memória com as crianças, que têm uma vivência mais curta. Para elas, essa coisa de construção de memória ainda é muito nova", conta Daniel Calvet. "A gente transformou essa ideia numa ação de guardar as histórias em caixas e isso deu a construção toda do cenário, com a ideia de que as memórias são guardadas ali e que a gente vai abrindo para reviver e jogar com essas memórias, como se agente pudesse acessar, empilhar desempilhar e conectar."
A pesquisa gestual da companhia, que é formada por bailarinos, transita entre a dança e a dramaturgia e esse diálogo fica bastante claro em Fica comigo. Por ser muito lúdico e criar no palco um universo particular, o espetáculo é carregado de teatralidade. "A dança em si às vezes nem é o mais importante ali, mas a encenação geral, a união de todos os elementos que a gente usa acaba dando um sentido maior e mais forte para o que a gente está tentando passar para as crianças", avisa Calvet.
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