Cinema

Comédia brasileira, 'Minha irmã e eu' mescla clichê e humor no longa

Com muita vitalidade e humor, Ingrid Guimarães e Tatá Werneck aliam a comicidade numa jornada de reconciliação proposta no longa assinado por Susana Garcia

Protagonistas, Mirelly (Tatá Werneck) e Mirian (Ingrid Guimarães), mesmo com desgastados laços fraternos, teriam tudo para ser "a pessoa no mundo" da outra, como dizem em determinado momento da comédia Minha irmã e eu. Inseparáveis, na infância; como adultas, mergulharam em realidades distintas e se confrontam numa ocasião que deveria ser de pura celebração: o aniversário da mãe, Dona Márcia (Arlete Salles), que completa 75 anos.

A "vida óbvia" das interioranas Mirian e Márcia, que moram em Rio Verde (no Goiás), pouco interessou Mirelly, que, sozinha no Rio de Janeiro, sempre se ocupou de uma vida de mentiras, movida a falsas intimidades com personalidades como Xuxa, Angélica, Iza e Bruno Gagliasso. Nada submissa, ela desfaz das existências organizadas das aparentadas. Apertada em tudo, Mirelly comparece aos festejos, "vestida de fimose", e, é a partir daí, começa a acumular os impropérios desfilados na tela, bastante contrastantes com o inofensivo rosé (uma cor "a meio caminho entre o rosa e o vermelho") operante no aniversário. Fingindo intimidade com celebridades, Mirelly decreta que, sim, "artista é tudo bi" e nem Tony Ramos é perdoado, ao ser apontado como "a liderança da suruba".

A vida de "corpos livres" sustentada pela personagem de Tatá, incapaz de ter maturidade para encarar "festa com open bar", é repleta de oportunidades para a atriz exagerar nos trocadilhos e na interpretação afobada e incontrolável na qual cada disparidade criada é imediatamente atropelada por disparate ainda mais urgente. Além do evidente entrosamento com a direção de Susana Garcia (de fitas com Paulo Gustavo como Minha vida em Marte), muito da graça vem do roteiro, temperado pelo talento de Ingrid Guimarães, e ainda assinado por Fil Braz (Minha mãe é uma peça), Verônica Debom (da série Vizinhos) e Célio Porto (associado a produção com Gregório Duvivier). Isso sem contar Leandro Muniz (das fitas com Fábio Porchat).

Um dado capaz de bagunçar toda a vida fake de Mirelly é de ter que se responsabilizar pelo dia a dia da mãe que, subitamente, some. Nisso, no compromisso de a reencontrar, as irmãs travam a jornada de unidade e libertação, à la Thelma & Louise. Pela frente, terão um inesperado velório, o contato com Zé Tião (Antônio Pedro, na última aparição em cinema), perrengues com o cartão bloqueado de Jayme (Márcio Vito), o marido de Mirian e um homérico embate com Lázaro Ramos, dado como "hétero tóxico".

Uma "pessoa seca", que não paquera há 25 anos, Mirian soltará o freio de mão. Na estrada, esbarrará com um cowboy (Leandro Lima, o Levi de Pantanal) que, como diz, "trabalha com fecundação". É a deixa para Mirian reativar na memória que "homem não é tudo igual". Com menos descaramento na interpretação, e descolada do humor sem máscaras defendido por Tatá, Ingrid brilha, pela sutileza, nas cenas de eterna implicância com Mirelly e, mais ainda, em momentos como o da ridícula descrição no retrato falado externado numa delegacia.

 

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