O cotidiano e as vivências do sertão são a matéria prima da artista Nilda Neves, que realiza a primeira exposição individual no Museu Nacional da República, a partir desta sexta-feira (1º/12). Com cerca de 60 pinturas que carregam fortes referências ao sagrado e à ancestralidade, Do sertão à lua também fala de afetos e de tradição. "Ela apresenta um pouco dessa fabulação do sertão. Essa imaginação tem um pouco do que a gente chama da experiência da casa, de situações domésticas, da relação de imaginar e confabular uma ancestralidade da terra", avisa a curadora Cinara Barbosa.
Nas pinturas, a artista trabalha a relação com o dia a dia da lida com a terra e a rotina de trabalho ao criar todo um imaginário pictórico em torno desses temas. Baiana radicada em São Paulo, Nilda passou por várias experimentações no campo profissional, foi professora, escreveu e ilustrou livros para, a partir daí, mergulhar na experiência de artista visual.
Cinara define a produção de Nilda como arte popular contemporânea e prefere não restringi-la ao universo do naif porque algumas das obras pendem para uma vertente mais surrealista. "São obras em que ela apresenta figuras com reconfiguração muito própria, em cena, em que demonstra muito dessa carga imaginativa sobre a vida, sempre relacionando com essa mítica da lua e do sertão", explica a curadora. "Esse trabalho começou a ganhar uma visibilidade dentro do que a gente entende como uma nova abordagem ou outra perspectiva no campo das artes numa releitura que a chamada arte popular ganha hoje em dia, talvez mais relacionada a uma arte contemporânea como um todo do que um nicho específico."
Nascida em 1961, Nilda trabalhou na roça, ao lado do pai fazendeiro, também responsável por abrir o mundo da literatura para a então menina. Os primeiros livros, Belo sertão e Lavrador do sertão foram escritos em 2010 e ganharam ilustrações da própria autora, que em 2015 caiu nas graças do curador Renato de Cara, responsável por divulgar o trabalho da artista autodidata.
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