Cinema

História de lenda indígena é contada em filme no Festival de Brasília

A transformação de Canuto, filme dirigido por Ariel Ortega e Ernesto Carvalho, é atração nesta sexta-feira (15/12) na mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Cena do filme A Transformação de Canuto: lenda indígena -  (crédito: A Transformação de Canuto/Reprodução)
Cena do filme A Transformação de Canuto: lenda indígena - (crédito: A Transformação de Canuto/Reprodução)
postado em 15/12/2023 06:00

Em novembro, A transformação de Canuto, dirigido por Ariel Kuaray Ortega e Ernesto Carvalho, estreou no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã e foi premiado como Melhor filme e pela Contribuição artística na competição Envision. Exibido nesta sexta-feira (15/12), às 21h, na 56° edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Cine Brasília, o filme integra a Mostra Competitiva Nacional Longas-metragens e mergulha no processo de produção de um longa que conta a história da misteriosa lenda indígena de Canuto.

O mito é conhecido na comunidade Mbyá-Guarani, situada pelos estados brasileiro, argentino, uruguaio e paraguaio. Segundo a narrativa, por volta da década de 1970, um homem se transformou em onça e depois morreu tragicamente. No filme, esses indígenas decidem produzir um longa que evoca as principais características desse herói. Nesse caminho, surgem elementos sobre o significado da transformação do indivíduo em onça. "Também tem a questão espiritual do ser humano com a natureza e, como nós, o povo Guarani, temos que ter essa relação de equilíbrio com a natureza", relata Ariel Kuaray Ortega, cineasta indígena da obra.

Leonardo Mecchi, um dos produtores, destaca que o principal desafio, no início, era definir quem iria interpretar a personagem de Canuto, tanto na infância quanto na vida adulta. "O filme retrata esse processo de busca dos membros da comunidade que interpretariam cada uma das personagens da história e, ao longo desse processo, vai se desvendando um pouco dessa mística em torno da personagem de Canuto, tanto do ponto de vista dos mais jovens, ansiosos por investigar e entender essa história, quanto dos anciões, reticentes em resgatar esse mito", explica.

A personagem de Canuto foi interpretada pelo próprio diretor Ariel Kuaray. "Acho que foi meio pesado, porque era uma pessoa (Canuto) que não estava tão bem espiritualmente, nem mentalmente, porque estava se transformando. Então, eu tive que me aprofundar muito na personagem", conta. Ele conhecia a narrativa desde criança e, em 2009, a contou para o primeiro professor de audiovisual que teve, Ernesto Carvalho, que se empolgou com a narrativa desde então e também dirigiu o filme.

A fita levou cinco anos para ser filmada, de março de 2016 a novembro de 2021, seguido de um extenso trabalho de montagem. A demora decorreu da proposta ousada e das restrições logísticas e orçamentárias. "Os diversos caminhos e propostas que o filme trilhou ao longo de sua produção estão expostos no próprio filme, que trás para a frente das câmeras os bastidores de sua própria realização, o que permite ao espectador acompanhar tanto seu processo de realização quanto o resultado dele", completa o produtor Leonardo.

A obra nasceu da base do Vídeo nas Aldeias — também projeto de Ariel Kuaray Ortega — que há cerca de 40 anos é referência em produções audiovisuais de realizadores indígenas do país. "Na minha opinião, A transformação de canuto demonstra a potência e maturidade que essa produção atingiu. Sua proposta artística e narrativa é algo extremamente impactante e tenho certeza que o público do Festival de Brasília sairá encantado da sessão do filme", completa Mecchi.

O roteiro contou com Ariel Kuaray Ortega, Ernesto de Carvalho, Miguel Antunes Ramos, Patrícia Ferreira, Ralf Ortega. Além de Leonardo Mecchi, a produção ficou com Vincent Carelli e Ernesto de Carvalho. Camila Freitas cuidou da fotografia, enquanto Ernesto de Carvalho e Tita, da montagem. Álvaro Benitez, Thiny Ramirez e Ariel Kuaray Ortega fazem parte do elenco. 

Curtas da noite

O curta-documentário A fumaça e o fiamante, Fábio Bardella, acompanha as emoções do reencontro de uma família Yanomami na aldeia Catrimani. Em Vão das Almas, Edileuza Penha de Souza traz o mito do Saci e destaca elementos das três principais culturas que fundam a identidade brasileira.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 

 

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