A Alfinete Galeria recebe, neste sábado (9/12), a partir das 19h, duas exposições que apostam no exercício de diálogos nascidos de pesquisas ancoradas na exploração dos universo pictórico e dos seres não humanos.
Na Sala A, a artista Silvie Eidam assume o papel de curadora na apresentação dos trabalhos de Danna Lua Irigaray, Ana Lúcia Canetti e Indira Dominici, cujos trabalhos são independentes, mas dividem várias reflexões em comum. Danna faz doutorado no Instituto de Artes de Brasília (IDA/UnB) e transforma em sujeitos objetos encontrados na natureza, como pedras e água. A escuta é matéria prima do trabalho da artista. “Ela mora no meio do mato, é muito conectada com esse mundo não-humano. Eu queria uma exposição em que os sujeitos fossem o não-humanos, que convidasse o público para olhar o não humano”, explica Silvie, que deu título de O sonho da aranha à exposição.
Uma pesquisa sobre cremação é o ponto de partida das obras de Ana Lúcia, que faz urnas em cerâmica para receber as cinzas do cerrado. Também doutoranda, a artista reflete sobre a destruição do meio ambiente, mas também sobre o poder dos elementos naturais, como fogo que deixa resquícios nas cerâmicas propositadamente trincadas. No trabalho de Indira, a luz toma a dianteira. Profissional do audiovisual, ela trabalha com o formato super 8 e intervenções com aquarelas. O diálogo com a luz, responsável por tornar visível o invisível no processo fotográfico, é um dos focos de interesse da artista.
A proposta da curadora é levar o público a refletir sobre a atuação da espécie humana no planeta e a necessidade de uma escuta mais atenta para o mundo não humano. “A gente está vendo como a espécie humana não está mandando bem no planeta e há necessidade de parar e escutar. Quem está destruindo o planeta não são os elefantes, as plantas nem as pedras. A exposição é um convite para escutar o não humano, porque eles estão muito melhores que nós”, avisa.
O artista Stênio Freitas leva para a Sala B uma coleção de colagens e pinturas trabalhadas em técnica mista e intituladas Morte branca. “Essas colagens misturadas com pintura são materiais que estou investigando no momento. Estou tentando fazer esse cruzamento de uma colagem sobre papel, mas que também possa ser pintura”, explica o artista. O branco e preto trabalhados nas obras remetem a condições sociais do próprio Brasil, mas também do mundo. “O branco, para mim, é como se fosse um apagamento histórico da arte. Penso nesse apagamento histórico a partir da lógica neoliberal do capitalismo, com essa lógica de virar a história, de tirar o pertencimento das coisas”, diz.
Serviço
O sonho da aranha
De Danna Lua Irigaray, Ana Lúcia Canetti e Indira Dominici. Curadora: Silvie Eidam
Morte branca
De Stênio Freitas
Abertura amanhã, às 19h, na Alfinete Galeria (W2 Sul, Qd 509, Entrada 58). Visitação até 2 de fevereiro, das 16h às 20h, às sextas e aos sábados