Cinema

Fotógrafo singular, o pernambucano Cafi inspira vívido documentário

Confira a crítica do documentário Cafi

Crítica // Cafi ####

Comportando enunciados com belos fundos de verdade, como "nem todo o trabalho é dignificante", junto com conceitos como o da "irresponsabilidade conferida pela pouca idade", e ideias como "o mercado de arte não é socialista o suficiente", o conteúdo do filme sobre o fotógrafo Carlos da Silva Assunção Filho é radiante. Morto em 2019, Cafi, como ficou conhecido, tem a generosidade de dividir com as personalidades que o ladearam a razão de ser do filme assinado pela criativa dupla de diretores Natara Ney e Lírio Ferreira. Entre muitas lembranças e pinturas que ele mesmo criou, Cafí entrega a visão eo por que apostar na fotografia, resumida ao "encontro com o outro — a sacralização de solidões (do fotógrafo e do fotografado)".

Fotografar ainda seria "a opinião sobre o que se vê e o que se acha". Nisso, há beleza nas visões de Beto Martins (dos longas A história da eternidade e Pacarrete), o sensível diretor de fotografia do longa Cafi. Por vezes monocromáticas, as imagens reforçam uma percepção do cinebiografado: a arte venderia "sensibilidade" e não "sabonete". Com mentalidade lúdica, Cafi trata com a mesma deferência a interação com a sacralidade do maracatu (com direito a depoimento do cirandeiro Mestre Anderson Miguel) e o encontro com disco-voador (na infância, atestado pela mãe dele) e o inusitado tête-à-tête com o Papa, numa Santa Tereza desértica.

Responsável pela cenografia do show Vagabundo (de Ney Matogrosso) ao lado de Rodrigo Cabelo (presente no documentário sobre o ilustre pernambucano), Cafi reacende anedotas sobre imagens para discos seminais como o dos meninos e o arame farpado (Clube da Esquina), o dos tênis de Lô Borges, o da flor de Alceu Valença e 18 assinados por Milton Nascimento. A era das criações coletivas, motivadas pelo Circo Voador, pela ação da Intrépida Trupe, da Blitz e do Asdrúbal Trouxe o Trombone, também estão registradas junto com a ação do Nuvem Cigana.

Celebrado, em música, por Otto, Cafi, no filme, a partir das acirradas preocupações sociais, é dado como "heterônimo de Gilberto Freyre", segundo um entrevistado, em lista que compreende a ex-mulher Deborah Colker, Jards Macalé, Miguel Rio Branco e Ronaldo Bastos. Hábil na montagem, a dupla de cineastas capta a importância de Zé Celso Martinez Corrêa na trajetória de Cafi. Metido em cosmopolítica, o dramaturgo gera as reflexões, ao citar, por exemplo, "A antropologia come até a utopia". Primo (segundo) de Nelson Rodrigues, apaixonado pelas vibrantes cores de Olinda e cioso de certa (e inofensiva) solidão, Cafi tem, finalmente, exaltada a paixão pela tranquilidade da praia de Maria Farinha, numa bela cena emoldurada por Recife manhã de sol (com Maria Bethânia).

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