A realidade brasileira serviu de material para Igor Vidor criar a série de obras da exposição Céu noturno crivado de balas, em cartaz no Museu Nacional e na Galeria Index. Nos vídeos e esculturas expostos nos dois espaços, o artista paulistano fala de violência, tanto aquela resultante da desigualdade contemporânea quanto da histórica, colonial. "Há muito tempo tenho lidado com um contexto dessa permanente violência no Brasil e os resultados estéticos desse tipo de conflito armado, que diz respeito às guerra das drogas, violência de estado que atravessa a história do brasil desde o período colonial", diz Vidor.
O recorte de obras apresentadas em Brasília vem carregado de forte intertextualidade, sobretudo no diálogo com a produção textual do curador, Mateus Nunes. "Acredito que meu trabalho pede esse tipo de mediação da curadoria junto ao público", diz o artista. Céu noturno crivado de balas reúne 15 anos de produção de Vidor, com alguns trabalhos inéditos e outros expostos pela primeira vez no Brasil após uma longa estadia do artista na Alemanha.
Nos trabalhos, Vidor reflete sobre a violência de várias formas: daquela praticada pelo Estado à produzida por uma forte indústria armamentista. Em um filme, ele conta como boa parte dos projéteis utilizados em armas no Brasil vêm de uma única cidade no interior da Alemanha. Essas balas estão presentes em crimes como o assassinato da vereadora Marielle Franco, no massacre do Carandiru e até na Guerra de Canudos.
Essa preocupação também está presente nas esculturas e nos documentários produzidos pelo artista. "Trabalho com a dinâmica do documento que lida com dado histórico forte, principalmente em relação à Alemanha, com conexões que não são nítidas. Quando se fala de período colonial, a gente sempre atrela a Portugal, mas tem uma ligação com a Alemanha também", explica.
Nas esculturas, Vidor trabalha com um tecido à prova de balas, material com o qual produziu a série Alegoria do terror. Segundo o artista, o Brasil é um dos maiores mercados desse tipo de tecido, muito utilizado na produção de carros blindados. "É uma correspondência tecnológica perversa: a empresa que projeta o projétil precisa torná-lo cada vez mais letal e a que produz o tecido, mais eficiente. E o lugar em que se usa esse carro e esse tipo de tecido é completamente diferente do lugar onde se usa o projétil. As esculturas usam essa informação", avisa o artista, que também trouxe para uma obra figuras de animais extraídos de brasões das polícias militares de diferentes estados brasileiros.
SERVIÇO
Igor Vidor — Céu noturno crivado de balas
Visitação até 26 de dezembro no Museu Nacional da República, de terça a domingo, de 9h às 18h30. Visitação até 19 de novembro, de segunda a sexta, de 11h às 19h, e sábados, de 10h às 15h, na Galeria Index (SCS Qd 01 Ed. Morro Vermelho)