História, identidade e cultura formam a matéria prima dessa peça que coloca lado a lado Antônio Pitanga e seu filho, o também ator Rocco Pitanga. Em uma sala de embarque de um aeroporto, os dois personagens se encontram para travar um diálogo que reflete sobre temáticas como a diáspora africana e as heranças culturais de duas gerações. Com direção de Márcio Meirelles e texto de Aldri Anunciação, Embarque imediato fala de um encontro, mas também de distâncias e proximidades geracionais.
A peça é a última de uma trilogia que tem Namíbia, não!, dirigida por Lázaro Ramos e que deu origem ao filme Medida Provisória, e O campo de batalha, de Márcio Meirelles e Fernando Philbert. Embarque imediato encerra a trilogia, mas não se trata de uma sequência. É a dramaturgia e o uso de uma linguagem articulada que une as três produções.
Segundo o diretor, a peça trata de questões muito contemporâneas, temas como origem, diáspora e consequências da história. A ideia é evidenciar a relação entre os dois personagens e como a política afeta suas experiências e identidades. Numa sala reservada de um aeroporto internacional, o jovem afro-brasileiro, que perdeu o documento de identidade e deveria embarcar para a Alemanha, aguarda um desfecho para o problema enquanto um velho estrangeiro também espera. "O jovem está sem os documentos e a palavra identidade é o documento, mas é uma metáfora também", explica Márcio Meireles. "Eles discutem a questão da diáspora, o que ela trouxe de positivo e de negativo para os afrodescendentes, a perda de contato entre gerações, que acho que é o grande problema dessa geração."
Para o diretor, uma das grandes questões da peça é a conexão perdida entre as gerações de afrodescendentes, especialmente desde o advento do mundo virtual. "Temos sempre que estar fazendo entregas e acabamos perdendo a essência do que somos, do outro, do mundo, do berço, da origem, do saber de onde se vem, que é o que define para onde se vai", diz o diretor.
Concebida e encenada pela primeira vez em 2019, Embarque imediato é também uma forma de celebrar os 80 anos de Antônio Pitanga. Além do filho Rocco, com quem o ator divide a cena, participa Camila Pitanga, cuja voz foi gravada em material audiovisual completa o cenário. "Foi um prazer imenso fazer esse trabalho, eles são incríveis, são atores, artistas e pensadores políticos essenciais para o Brasil. Antônio fica sentado o tempo inteiro, é meio um totem, um ícone mesmo, uma entidade, um monumento da cultura brasileira", avisa Meireles.