MÚSICA

Em show, a dupla carioca Gorduratrans mergulha na música experimental

Com uma sonoridade mais experimental, com referências inclusive à música eletrônica, o novo disco do Gorduratrans bebe de referências da MPB inéditas para o projeto, como Jorge Ben, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan.

Gorduratrans é Felipe Aguiar e Luiz Marinho. -  (crédito: Thaysa Paulo/Divulgação)
Gorduratrans é Felipe Aguiar e Luiz Marinho. - (crédito: Thaysa Paulo/Divulgação)
postado em 20/10/2023 07:00 / atualizado em 20/10/2023 12:06

Debutada a partir do aclamado álbum Repertório infindável de dolorosas piadas, de 2015, a dupla carioca Gorduratrans conquista o público alternativo Brasil afora com uma sonoridade intimista e soturna. Tido como um dos grandes representantes do movimento rock triste, o projeto se apresenta na capital pela primeira vez em seis anos sábado (21/10), no Zepelim, a partir das 18h, divulgando o novo trabalho, Zera.

Com um som historicamente adjacente a bandas de shoegaze como My Bloody Valentine, Slowdive e Sonic Youth, a dupla, no novo disco, bebe de referências da MPB inéditas para o projeto, como Jorge Ben, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan. Também explora recursos eletrônicos ainda não vistos nos trabalhos da banda, como sintetizadores e percussão digital. Planejado desde antes da pandemia, entretanto, o álbum teve seu processo fortemente afetado pela calamidade sanitária. “Eu cheguei a achar que encerraríamos as atividades”, confessa o baterista e vocalista Luiz Marinho.

A efetiva concepção do disco só se deu dois anos depois dessa brusca interrupção, com o arrefecimento da crise de saúde. “Para o Zera a gente entendeu que precisaríamos expandir um pouco do nosso leque de possibilidades e pedimos ajuda a alguns amigos pra nos ajudar a pensar o disco”, rememora Luiz. “Esse período foi, basicamente, a primeira vez em que víamos rostos conhecidos pessoalmente, bem quando acabou oficialmente o lockdown, pós-vacinas e tal”.

Após uma intensa semana de imersão num sítio em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, os músicos entraram no Estúdio El Rocha para gravar, no que foi a primeira vez em que a dupla produziu um disco com a colaboração de terceiros, no caso Roberto Kramer e Fernando Dotta. “Os dois primeiros foram 100% produzidos, gravados, mixados e masterizados em casa, por nós mesmos, mesmo sem ter muita ideia do que a gente tava fazendo e aprendendo certas coisas na hora”, lembra o baterista.


Referências do nicho


Repara-se, entretanto, que a estética lo-fi, termo usado para produções que fogem do padrão de qualidade comercial, não impediu o sucesso do disco Repertório infindável de dolorosas piadas, que projetou a banda no cenário indie nacional. “O lo-fi aqui ultrapassa as barreiras puramente estéticas, mas ele vem por necessidade mesmo. A ideia sempre foi reger as coisas com a ética do Faça-você-mesmo, do jeito que der, da maneira que é possível naquele momento, mesmo que não seja nas condições ideias, de espaço, equipamentos, grana”, explica.

“Eu olho pro Repertório infindável com o maior carinho do mundo. É o nosso primogênito”, diz Luiz. “O disco acabou se tornando uma das grandes referências do nicho e de certa forma acabou dando cara pro shoegaze brasileiro, com essa estética que a gente trouxe, tanto sonora quanto visual, com a capa e encarte composto por uma série de autorretratos de uma grande amiga e artista visual, a Natália Mansur”, avalia.

O sucesso do disco e da dupla veio numa onda de artistas e bandas alternativas na década de 2010 conhecida como rock triste. “Percebo o rótulo como uma forma da galera juntar essas bandas em uma categoria nacional de bandas independentes que fazem sons mais ou menos parecidos, ou pro mesmo nicho, tipo shoegaze, emo, post-rock, algo de punk e post-punk”, destaca. “Foi um punhado de bandas que foi surgindo tocando rockinhos tristes, cantados sempre em português”.

Para compensar o tempo distante dos palcos da cidade, a Gorduratrans rememora nessa apresentação o auge do rock triste com um repertório que perpassa toda a trajetória independente da dupla. “Teremos músicas de todos os discos, inclusive uma que não tocamos ao vivo há uns 7 anos e depois dessa turnê a gente provavelmente não vai voltar a tocá-la. O show tá realmente imperdível”, conta Luiz.

A abertura fica por conta da energética banda Oxy, advinda da cena candanga com uma sonoridade também puxada para o shoegaze. Agora, a Gorduratrans já pensa, sem pressa, em um novo trabalho, explorando as possibilidades ofertadas pela formação de quarteto. “Vamos seguir afiando as ideias, tocando nas cidades por onde a turnê do Zera ainda não passou e que em breve a gente vai divulgar nas nossas redes”.


Serviço

Turnê Segunda Onda

Neste sábado (21/10), a partir das 18h, no Zepelim (713 Norte). Ingressos a partir de R$ 55, disponíveis no Sympla.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

 


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