Numa Europa que ainda sofre do pós-guerra, em 1956, a irmã Irene é mais uma vez convocada pelo Vaticano para protagonizar uma caçada ao demônio Valak, que enfrentou e derrotou quatro anos antes, nos fatos do primeiro filme, derivado do universo de Invocação do mal. Agora, no entanto, a entidade se vale do corpo de Maurice, aliado da freira no primeiro embate, para percorrer a Europa atrás de uma relíquia poderosíssima: os olhos de Santa Luzia.
É em um internato feminino francês que a maior parte da ação acontece. Maurice ali trabalha como zelador das dependências e protege a pequena Sophie do bullying de garotas mais velhas. A atuação das pequenas é um ponto alto do filme, ao lado também da performance ímpar de Irmã Debra (Storm Reid), fiel escudeira de Irene na caçada ao maligno.
Fato é, entretanto, que A freira 2 deixa muito a desejar no que tange o terror de fato. Desde os primeiros minutos, sustos forçados e pouco imaginativos poluem a experiência cinematográfica e impedem que se crie uma tensão prolongada genuína. Mostra-se difícil negar que todo o enredo carece de criatividade e significado. É um feijão com arroz, sem tempero algum, baseado em clichês já muito manjados pelo público: possessões e exorcismo. Mas, diferentemente de outros filmes de temática semelhante, sequer se arrisca no universo das blasfêmias e provocações morais.
O terceiro ato do filme se perde em meio a uma infantilidade planejada. É uma sequência de ação que mira no épico de maneira tão estilisticamente dissidente do terror que quase se assemelha a um filme de super-herói. Essa, contudo, parece ser a intenção dos produtores, que se valem da obra quase exclusivamente para expandir à força o universo cinematográfico de Invocação do mal, inspirados pelo que fez a Marvel na década passada.
O vilão Valak é mais um ponto fraco. A imagem da freira putrefata e demoníaca por meio da qual ele se manifesta, apesar de icônica para a franquia, já não tem mais nada a acrescentar à trama. É um retrato caricato e esgotado, que pouco faz de diferente em relação ao primeiro filme.
O conceito interessante por trás do personagem - um demônio capaz de tomar formas que testam a fé dos cristãos - se enfraquece à medida que pouco se explora dessa habilidade de maneira realmente provocativa. A motivação: tomar posse dos olhos de Santa Luzia, paira sobre o filme, sem tocar o chão e implicar em consequências e significados tangíveis.
A freira 2 é melhor que o primeiro, mas ainda peca em muitos dos mesmos pontos. É melhor produzido tecnicamente, mas segue vazio e desorientado. O filme não faz jus ao potencial dos personagens e das temáticas escolhidas.
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