Crítica // Missão: Impossível — Acerto de contas — Parte 1 ####
Não só a expressão o fim da linha, mas ainda a relativização das leis da gravidade que são colocadas em questão, diante de todas as extravagâncias na ação do sétimo episódio da franquia cinematográfica Missão: Impossível. Isso, no lado do potencial de aventura do filme estrelado por Tom Cruise. Já um mal que abala toda a confiança de dados digitais, mundo afora, se projeta como um real inimigo chamado de entidade, e que pode ser aplacado caso se recorra ao poder dos empoeirados artefatos batizados de analógicos. Em jogo, ao longo do filme que explora a possibilidade de um bug, estão negociações que sinalizam perigo numa luta final por recursos básicos mundiais, suscetíveis à infecção digital que interfere em bancos internacionais e em infinitas redes de corrupção.
A possibilidade de um superestado, criado em moldes globais, se atesta possível. Mesmo alianças improváveis como a do personagem central da ladra Grace (Hayley Atwell) se instalam na base da naturalidade. Reviravoltas e ações desmedidas, nos mais variados lugares, fazem de Missão: Impossível um fenômeno. Desativar um potencial de "dominância global", numa escalada de sabotagem, tem tudo para fazer do espião Ethan Hunt (Tom Cruise) protótipo para o resgate de colossal heroísmo. E ele cumpre o esperado, duelando, cara a cara, com o vilão Gabriel (Esai Morales). Neutro de emoção, e consciente de cada fresta para agir, o antagonista do filme se revela onipotente.
Com escala monumental, a exemplo do recente Velozes e furiosos, Missão: Impossível investe em cenas junto a turistas e acidentes de carro em escadarias e vielas italianas. As mulheres da trama também ganham enorme projeção, especialmente numa fatídica cena em uma ponte. Por muitas vezes, as ativas Grace e Ilsa (Rebecca Ferguson) são mais presentes, por exemplo, do que o capataz Zola (Frederick Schmidt). Ainda assim, o alvo de maior perigo segue sendo Ethan Hunt, no controle de crises de paranoia em aeroportos e da motocicleta, que desafia despenhadeiros e exige o uso até de parapente.
Curiosamente, há momentos da aventura de Tom Cruise que fazem lembrar o recente fim da saga Indiana Jones — prenúncio de um bom filme. O desgovernado trem em movimento faz ecoar os esforços de Harrison Ford na telona. Noutra frente, para além da tensão inicial com o destino do submarino russo Sevastapol, Missão: Impossível não decepciona ao tratar de investidas tecnológicas em códigos-fonte e uso jocoso de teste psicométrico (junto com o exame de habilidades do decifrar de charadas), sem contar a sensacional sequência em que, um a um, vagões de trem são descartados, nos Alpes austríacos. Há momentos questionáveis, no filme, entre eles a da cômica e arrastada sequência dos protagonistas ao volante (numa duração à da situação da festa que também não acaba) e ainda outra em que, aderindo a disfarce, uma personagem fica com a cor errada dos olhos.