Crítica

Oppenheimmer estoura na tela: pouco mais do que uma bomba

Filme condensa, quase como dossiê, toda a vida e obra do famoso físico Oppenheimmer, tido como o pai da bomba

Ricardo Daehn
postado em 21/07/2023 07:12
Oppenheimer e a devoção pelo estudo 


       -  (crédito:  Universal)
Oppenheimer e a devoção pelo estudo - (crédito: Universal)

Crítica // Oppenheimer ##

Até ser aclamado como "brilhante" e "íntegro", o físico que mudou o curso da história dos combates entre pátrias, J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), passará por incontáveis provas. Mas, muito acertadamente, no filme condizido por Christopher Nolan, jamais será celebrado como personalidade comprazida pelo "poder divino" — decorrente da troca da fissão nuclear (calibrada, grosso modo, a plutônio ou urânio) pelo incremento da fusão nuclear (hidrogênio) — que ele determinou, a partir da sua profissão e relevância. Galopante na tela, a reputação de Oppenheimer vem no embalo do irregular cinema de Nolan; tivesse o andamento de um Oliver Stone, o filme certamente seria outro.

Lutas moderadas (com contornos comunistas), indignação e até humilhação fazem parte da estrada do filho de judeus, criado nos Estados Unidos, mas educado, em muito, com pedigree europeu. O roteiro, nada conciso, tenta aglomerar as mais de 600 páginas do livro assinado por Kai Bird e Martin J. Sherwin (recém-lançado pela Intrínseca). Uma via crucial é a de sublinhar um elemento muito contemporâneo: o da relação entre desenvolvimento da ciência e o suporte (ou sabotagem) do governo. "Justificar uma vida inteira" de esforços é a circunstância posta como desafio para Oppenheimer, que encara no sucesso da missão Trinty (acoplada ao projeto Manhattan), na mesma medida em que adentra um teatro político salpicado de manipulação shakespeariana, perfeitamente condensado numa fala do personagem de Robert Downey Jr., o almirante Lewis Strauss: "O poder fica nas sombras".

Desnudado, literalmente, no cinema, Oppenheimer é exposto no excessivo cinema de Nolan: nisso, a trama não deixa de fora a perigosa relação com Jean Tatlock (Florence Pugh) e a potência do encontro com Kitty (Emily Blunt). No amor, Kitty expressa as opiniões fortes que desencaminham Oppenheimer da resignação de um mártir. Uma das grandes sacadas do filme é a de se apropriar do preto e branco não para demarcar o passado, mas para indicar um futuro instável. Noutro pico, Nolan apresenta toda a tensão desfilada em um teste nuclear, que fica dilatada, na telona, sob o efeito de um silêncio devastador, retardando todo e qualquer impacto.

Há, em Oppenheimer, uma pitada de western (com a instauração de uma cidade, no meio do nada estadunidense), de cinebiografia padrão (aspectos da formação e da genialidade) e de drama de tribunal (com um contexto de difícil digestão para o espectador comum). Traição, sindicalismo, perseguição política, solidez de amizade e jogos estratégicos estão representados nas exaustivas três horas de duração do longa. No mix de todo este dossiê em forma de filme, um dos maiores méritos fica com Matt Damon, na pele do militar que deu plataforma para o estabelecimento do paradoxo de proteção, que liquidou mais de 220 mil vidas, no episódio de devastação para Hiroshima e Nagasaki (1945).

 

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