Crítica // La parle ###
O roteiro de La Parle, situa-se entre um trecho de Aquarela ("e o futuro é uma astronave que tentamos pilotar") e o "nada do que foi será" da onda no mar cantada por Lulu Santos. Ainda que não se complete enquanto modelo de longa, La Parle vem batizado pela ideia de comunhão, com roda de personagens que, na costa basca, circundam uma área litorânea de famosa onda, que por uma lenda, ajuda na dissolução de problemas em andamento.
Reunidos no Les Ateliers du Cinéma, em vivência comandada pelo respeitado cineasta Claude Lelouch, um grupo — integrado por Fanny Boldini, pela brasileira Gabriela Boeri e pelos também estreantes em longa Kevin Vanstaen e Simon Boulier — conversou e interagiu, criando um longa-metragem (com imagens capturadas por iPhone), formulado entre 2018 e 2020 e que driblou a pandemia, dada a pós-produção, feita em esquema remoto. "Na espera, também acontece muita coisa", coincidentemente, proclama um dos personagens em cena.
Um belo desfecho visual em que ecoa o citado Imensidão azul (de Luc Besson), La Parle não trata de rivalidade, como é o caso do citado longa de 1988, mas sim de reconciliação e entendimento. Tateando personagens, todos tentam resolver a história, que vem com o andamento da vida — numa temporada de férias privilegiadas, entre preparação de jantares, discussões sobre vinho, análises multiculturais e contato com restrições, tudo de um quê desconexo, uma vez que cada (e todos) artistas cuidaram de todos os departamentos de produção do longa.
Citando a veia libertária do escritor Marcel Pagnol (adaptado para o cinema, em filmes como Jean de Florette, Manon of the spring, A glória de meu pai e O castelo de minha mãe), o grupo de criadores do filme investe na busca de tranquilidade, em meio ao caos pessoal. Situações incompletas, bloqueios, separações iminentes (no caso da avó, cada vez mais confusa, ao telefone) e doenças estão alinhavadas em La Parle. Longe do que seja previsto, líquido ou certo, em grupo, personagens discutem desde a inexistência do "risco zero" na vida até o desamor, o "parar de amar" e a afeição como algo nada "consumível". Divagações pairam, algumas interessantes.