Crítica // Bem-vindos de novo ###
Ainda que morto em 1963, impressiona que, mesmo indiretamente, o mestre do cinema Yasujiro Ozu, que expressou crua rudeza dos filmes de família, em dramas como Era uma vez em Tóquio (1953) e Ele é um pai (1942), siga influente. Com o brasileiro Marcos Yoshi, que chega ao circuito, com o primeiro longa, seis décadas depois da partida de Ozu, algo está pulsante.
Um filme triste, que desafia a sensibilidade dos espectadores a sufocar julgamentos a comportamentos alheios, Bem-vindos de novo mostra a momentânea e cíclica fissura instalada em uma família. Tateando o modelo de filho exemplar, o diretor Marcos documenta os solavancos da vida de um pai e mãe que, por momentos, ficam "secundários" no seu mundo e nos universos das irmãs dele.
Inexperiência de vida e arroubos de independência, em 1999, pontuam o futuro da família em ascensão econômica. Encorpando a geração de decasséguis, nipo-descendentes que emigrar para o Japão, visando melhorias, os pais esbarram em desconfortos e incertezas. A pressão do segundo grau cursado, em dado momento, por Marcos, parece mínima, diante da realidade dos pais que, afastados por muitos anos, julgam até mesmo desconhecer os próprios filhos.
De personalidade forte, o pai Roberto Yoshisaki parte, inicialmente, para uma trajetória no exterior prevista para dois anos. Longe da tecnologia e da visão empreendedora, à deriva de sonhos perdidos, o casal encara um trabalho manual de operário, incapaz de fazer frente às associações em restaurantes brasileiros (que Roberto viveu, ao lado da serena esposa Yayoko). Regressos incertos, separações, e uma tonelada de traços íntimos marcam a coesa narrativa do filme. Representações de futuro, promessas e dedicação atravessam complexos registros com forte potencial para impactar.