Impedido de entrar nos parques naturais do deserto do Atacama, no Chile durante a pandemia, o fotógrafo Bruno Stuckert fez de uma viagem uma experiência contemplativa noturna que rendeu o ensaio Desatar, em cartaz no Hidden. As paisagens só podiam ser contempladas durante a noite, já que os parques estavam fechados durante o dia. Stuckert aproveitou então para realizar uma série de fotografias com uma técnica que chama carinhosamente de "pintura com luz".
No espaço reservado para as exposições no Hidden, Stuckert fez uma intervenção para evocar o deserto. As imagens enquadram paisagens mágicas num lugar que o fotógrafo classifica como paradisíaco. "Me peguei nesse lugar muito contemplativo, muito escuro, que já era muito bonito e no qual pintei as montanhas com uma luz de led", explica.
A experiência levou o fotógrafo a um processo contemplativo provocado pela própria fotografia. Depois de muito fotografar, Stuckert se deu conta de que não estava observando a paisagem a olho nu. "Foram cinco dias e no quinto, de tanto ter esse processos da luz, eu já não conseguia mais enxergar direito as estrelas e me percebi num lugar de não estar observando a natureza, só fazendo foto", conta.
Ao se debruçar sobre as imagens para organizar o material, ele passou a refletir sobre o tempo dedicado à observação do mundo e das paisagens. "Foi uma transformação pensar na observação das coisas com mais carinho, mais atenção. É uma série de fotografias de contemplação para a gente poder observar o tempo, olhar para si mesmo. É uma busca de não ser só um grande fotógrafo, mas um grande entendedor de mim, de descobrir como eu sou por dentro e como posso melhorar esse processo de passagem", reflete.
Desatar
Exposição de Bruno Stuckert. Até 17 de setembro, de quinta a sábado, a partir das 18h, na Casa da Manchete (SIG, Quadra 01, lotes 985-103)
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